Um ano depois, a tragédia que encheu o Rio Doce de lama e minério continua com seus efeitos devastadores. Quando perguntados, ambientalistas diziam que o rio iria agonizar por dez, vinte, trinta anos. A melhor das previsões era assoladora.
Enquanto fazíamos a série de reportagens pelo curso do rio, até Regência (ES), encontramos muitos personagens. Areieiros, pescadores, pesquisadores, comerciantes, indígenas. Todos, em diferentes graus, dependiam dessas águas.
Em nossa memória ficou marcada a família da Maria José dos Santos, de 54 anos. Ela, o marido, três filhos e três netos viviam da pesca em Baixo Guandu (ES). Eles já nasceram ali, bebendo aquela água. O mesmo rio que servia de parquinho para as crianças era a fonte de renda da família. Mas logo que a lama chegou, os peixes morreram.
Hoje, a vida começa a dar sinais de recuperação. Já aparecem peixes, mas é proibido pescá-los. A Maria José recebe uma cesta básica e um salário mínimo da Samarco, empresa responsável pela tragédia. Às vezes alguém da empresa bate à porta, promete algo e vai embora para nunca mais dar satisfações. Apoio irrisório se comparado à grandiosidade das perdas que a família sofreu.
O rio parece limpo, mas a lama continua lá. Pesada, no fundo. “Qualquer chuva que dá a lama sobe. A areia está encardida, cheia de minério”, conta Maria José.
Conversamos com ela por telefone, para saber como a família tem passado desde a nossa visita. Parece que nada mudou. Eles continuam comprando água para beber e ainda perdidos, sem um rumo definido. O marido da Maria José, Irineu Rodrigo dos Santos, de 60 anos, parece ter um misto de sofrimento diário junto daquela pontinha de otimismo, que sobrevive arduamente, já muito machucada. Na verdade, pode ser que essa seja a única opção. “Ele vai lá, dá uma voltinha. Não tirou o barco da água até hoje, acho que ele tem esperança. Talvez”, comenta a esposa.