Steven Spilberg inspirou Irmã Selma, conta Octávio Mendes

Teatro
Ator conversou com o Poços Já depois da apresentação (foto: Juliano Borges/Poços Já).

Do início ao fim, o ator Octávio Mendes conseguiu muitas gargalhadas do público que estava no Teatro Benigno Gaiga. O espetáculo “Irmã Selma e seu terço insano” foi apresentado em Poços de Caldas durante a noite de domingo (26).

Além do personagem que dá nome à peça, outros tipos foram levados ao palco, todos apresentados pelo fantoche da freira mal humorada. “Sinto muito por vocês terem perdido o Fantástico”, debocha logo no início. O ex-gay Val, a apresentadora Mônica Goldstein e as cantoras Xanaína e Maria Botânica fazem com que a peça não dependa somente da Irmã Selma, personagem mais famoso do humorista. As risadas foram altas e constantes, durante a hora e meia de duração do espetáculo.

Após a apresentação conversamos com o ator, que contou sobre o processo de criação dos personagens e falou sobre um grande ídolo, o diretor de cinema Steven Spilberg.

Poços Já: Como você cria os personagens? Há um processo definido?

Octávio: Cada personagem vem de uma história. O ex-gay é porque eu fiz psicologia, então eu tenho um interesse muito grande pelo lado existencial das pessoas. Eu não entendo porque as pessoas sofrem por serem elas, apenas elas. Porque gay ou negro ou japonês ninguém é porque quer ou não quer. Por exemplo: eu sou branco porque casualmente quem transou pra eu nascer eram brancos, não é questão de querer. Você nasce assim e não sei porque o sofrimento por causa de uma coisa dessas. Então inventei um ex-gay.

Mônica Goldstein apresenta programa de TV sensacionalista (foto: Juliano Borges/Poços Já).

Poços Já: E a Mônica Goldstein?

Octávio: Monica Goldstein, que é um programa de TV sensacionalista, é porque eu acho muito engraçado programas sensacionalistas. Eu gosto desses programas, acho que eles não têm limite. Quando você pensa que eles chegaram no limite assim da apresentação eles guardam ainda “agora vamos ver ao vivo a esposa recebendo a notícia que o marido foi esfaqueado”, sabe? E eles mostram. É uma coisa assustadora. Então, eu gosto também.

Xanaína tem silicone apenas no seio direito e pensa que sabe cantar (foto: Juliano Borges/Poços Já).

Poços Já: Xanaína?

Octávio: Xanaína veio porque eu acho que nossa música, a música brasileira, a gente deveria se ajoelhar pros cantores, compositores, arranjadores, maestros, nossa música é muito rica. Mas, ao mesmo tempo que é tão rica, tem uma leva horrorosa que carrega nossa música que é o nada, nada, nada. Xanaína é o nada, é a minha crítica a isso. Tanto é que a música que ela canta que é “aaah, aaaah”, é só isso. Na minha cabeça, quando eu tava escrevendo, ela é uma pessoa mais simples, queria ser compositora ou cantora, provavelmente alguém disse pra ela: “então você coloca uma letra na música”, ela pôs ‘a’.

Maria Botânica tem dificuldade para lembrar as letras da música (foto: Juliano Borges/Poços Já).

Poços Já: E quanto à Maria Botânica?

Maria Botânica é porque um dia eu fui fazer um homem das cavernas e eu entrei com um cabelão comprido e, por causa do nariz, gritaram “MARIA BETÂNIA”, ai eu falei: ah, um dia eu vou fazer Maria Betânia. Aí ficou Maria Botânica pra, enfim.

Poços Já: E esse mal humor da Irmã Selma?

Octávio: Essa foi mais comprida a história, você quer saber de verdade?

Irmã Selma é uma freira maldosa e mal humorada (foto: Juliano Borges/Poços Já).

Poços Já: Sim.

Octávio: Tá, eu assisti uma entrevista do Spielberg, que é um cara para quem eu me ajoelho. Como ele faz as coisas! ET, por exemplo, é um filme que na mão de qualquer pessoa seria uma barbárie, porque o filme não tem nada. É um ser horroroso que encontra um menininho, passa o filme inteiro com o menininho e depois vai embora. Só tem isso no filme. Não tem mais nada. As pessoas se arrebentam de chorar no cinema, é uma coisa impressionante no mundo inteiro como as pessoas se comportam com aquilo. Aí perguntaram pra ele como escrevia os roteiros, daí ele falou: mais importante que a própria história é a curva emocional que o espectador vai sentir durante a apresentação. Então ele minuta duas horas e ele calcula primeiro o que ele quer que a plateia sinta. Depois ele vai começar a pensar na história. Então é, por exemplo, medo/ medo/ um susto/ uma risada/ um não sei o quê. Ele vai ali calculando, aí por exemplo medo pode ser uma perseguição, perseguição é bom, pode ser uma bicicleta e um carro e um skate e uma nave espacial, aí tanto faz, porque você já resolveu como vai ser, né? Vai interromper um instante com uma piada, vai aumentar o suspense, vai resolver o suspense. E eu pensei: nossa, que brilhante isso de pensar ao contrário. Aí eu comecei a exercitar e pensar se isso é possível pra mim e eu comecei a pensar ao contrário. Como é que seriam, primeiro, as características que qualquer pessoa que trabalhasse com o humor não pudesse ter.E aí comecei a levantar, Irmã Selma tem tudo que não pode. E aí fui fazendo ao contrário e deu isso. Cada um tem uma história assim.

Poços Já:  E o fato de serem personagens femininos, na maioria?

Octávio: Eu fazia um show chamado Terça Insana, que a gente criava muitos personagens. Aí uma vez, na verdade, esse show eu tinha inventado a pedido de uma escola de teatro que era pra fazer uma apresentação, mas já estou há cinco anos em cartaz.  Eles queriam nessa escola que eu levasse alguns personagens, Irmã Selma inclusive. A maquiagem de Irmã Selma é super pesada, não teria cabimento eu fazer outro personagens, dar um intervalo de 40 minutos e voltar e fazer cinco. Nem fazer ela no início, tirar a maquiagem e ficar meio um lixo a cara, quando você lava muito depressa. Aí como eu tinha escrito muitos femininos e muitos masculinos, para aproveitar mesmo a maquiagem, eu pus todos esses, o único mais ou menos homem é o ex-gay.

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