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Olá, queridos (as)! Quem já me conhece, já me ouviu falar ou me acompanha nas redes sociais, sabe que sempre defendo a bandeira do autoconhecimento para conseguirmos ter relações mais saudáveis em diversas áreas da vida, seja profissional, familiar, amorosa, entre outras. Entender nosso funcionamento psicodinâmico e sistêmico, bem como o funcionamento mental, é de extrema importância nesse processo. Sendo assim, hoje vou falar um pouco sobre um fator que influencia profundamente nossos comportamentos, ou seja, uma motivação que nos faz agir da forma que a gente age: nossas crenças inconscientes.

Mas como saber se temos alguma crença inconsciente? Se alguma situação negativa se repete insistentemente na sua vida ou se, por mais que você faça tudo certo, não consegue os resultados que deseja, você pode estar sendo movido por crenças inconscientes. Pode ser um problema recorrente financeiro ou de saúde, se você sempre tem o mesmo tipo de relacionamento, fala e se posiciona sempre do mesmo jeito, não sabe colocar limites, alimenta expectativas irreais sobre as pessoas, quer atenção de todo mundo, tem medo de se expor ou medo de desagradar os outros, por exemplo.

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Mas o que são as crenças? As crenças são julgamentos e avaliações sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo que nos cerca, aquilo que acreditamos que merecemos, podemos e somos capazes. São permissões e não permissões para fazermos o que queremos. Sabe aquela “vozinha” que ecoa na nossa cabeça dizendo coisas tipo: “eu não consigo, não sou amado ou não sou bom o suficiente”? Então, esse diálogo interno exemplifica as crenças limitantes. Por outro lado, frases como “consigo tudo o que preciso, só o melhor me acontece ou aprendo tudo com facilidade” podem ser classificadas como crenças fortalecedoras. Você sabe quais são suas crenças?

De alguma maneira, nós somos levados a acreditar em determinadas coisas, que se transformam em verdades absolutas para nós e, mesmo diante de provas que as invalidem,insistimos em defendê-las. Quando acreditamos em algo tendemos a nos comportar de forma congruente com isso. Assim, se acredito que não sou bom em matemática, vou me comportar como se isso fosse real. Logo, não vou me esforçar para aprender matemática e de fato tirarei uma nota ruim e não aprenderei matemática. Esse resultado vai fortalecer a crença que “não sou bom em matemática”, gerando um ciclo vicioso.

Como percebemos as crenças? Muitas vezes já estamos tão acostumados com essas crenças que as repetimos como mantras. Quem nunca ouviu ou disse: “dinheiro não traz felicidade”? O que acontece é que, se temos uma frase dessas gravadas no nosso inconsciente, mesmo que façamos de tudo para termos dinheiro, existe uma briga interna entre o consciente que quer fazer dinheiro e o inconsciente que entende que “eu quero ser feliz, então não quero dinheiro”. Nesse caso, mesmo que você trabalhe muito e consiga dinheiro, inconscientemente você acaba agindo de maneira a se livrar do dinheiro, se endividando ou gastando tudo logo de uma vez, comprando coisas que nem sequer precisava. Você já agiu assim alguma vez?

Essas crenças definem o nosso modelo mental e por isso é tão valioso termos consciência delas e da forma que foram criadas para que possamos validá-las ou desconstruí-las, conforme seus efeitos sobre nossas emoções e comportamentos. Cada pensamento que temos desperta um estado emocional específico que nos leva a determinada ação. Na prática, se por acaso eu acordo pensando que hoje será um dia péssimo, esse pensamento faz com que eu me sinta desanimada e quando estou desanimada me fecho, não cumprimento as pessoas e fico sem energia para realizar minhas tarefas e só faço o mínimo, no final do dia terei várias tarefas pendentes e vou notar que meu dia foi improdutivo. Quando olhamos para o resultado que estamos tendo e fazemos esse caminho que nos levou até ele, podemos nos entender melhor e alterar alguma dessas etapas para termos um resultado diferente. Isso faz sentido para você?

Uma crença pode ser tão forte que cria um caminho neural no cérebro, fazendo com que a pessoa reaja sempre da mesma maneira a um dado evento, mesmo querendo fazer diferente, logo, existe uma predisposição a fazer daquela forma toda vez que ela se colocar diante de uma situação que desperta nela a carga emocional que ativa esse circuito. Assim, podemos identificar nossas crenças também quando descobrimos nossos gatilhos emocionais. Gatilho emocional é tudo aquilo que te desestabiliza, sejam palavras, fatos, atitudes. Você sabe de que forma você se desestabiliza? Em qual lugar você sempre se sente fechado ou inferior? De qual palavra te chamam e você fica descontrolado? O que uma pessoa precisa fazer para te deixar fora de si?

Mas como as crenças são criadas? Elas surgem de experiências e interpretações que damos a fatos emocionalmente significativos que nos acontecem, principalmente durante a infância. Aqui é necessário entender dois fatores: o primeiro é que a percepção que temos da realidade é mais importante que o fato em si, pois um mesmo fato pode ser interpretado e descrito de uma forma totalmente diferente por várias pessoas que o observaram e é a partir da nossa interpretação que damos significado ao fato.

Já o segundo consiste na diferença de percepção da realidade por adultos e crianças. Isso ocorre porque a razão e a consciência são formadas até aproximadamente os 10 anos de idade, ou seja, antes dessa idade nosso lado racional não tem filtro e temos poucas referências internas. Sendo assim, a interferência do inconsciente prevalece. A criança não dá conta de fazer uma avaliação correta, não tem conhecimento suficiente e nem discernimento dos sentidos, ou seja, não tem recursos para perceber a realidade de maneira ampla. Nesse contexto, a criança pode generalizar, interpretar ações independentes como se fossem com ela, por exemplo: pode entender “meu pai não me deu atenção porque estava prestando atenção no futebol, isso significa que não sou merecedor”.

As crianças não conseguem separar suas ações de si mesmas, então reagem a uma aprovação de sua ação como se fosse a aprovação de si mesma. Por exemplo: se é elogiada pelos seus pais pode entender que ela é amada, capaz e boa o suficiente. Da mesma forma, reagem a uma punição como se estivesse sendo desaprovada: se quebra um copo e sua mãe diz que é burra, ela pode interpretar como “eu não sirvo para nada, não mereço nada de bom na vida, não faço nada direito”. E se uns dias depois ela continua a ouvir isso de pessoas diferentes, de seu pai, de um colega ou professor, esse pensamento é reforçado e pode se tornar uma crença. Essa crença pode fazer com que no futuro ela escolha ter um trabalho simples e que não lhe exija nada, já que acredita que “não faz nada direito”. Consegue ver como a crença pode interferir nas escolhas que fazemos na vida?

A maioria das crenças que motivam nossos comportamentos são fruto de interpretações infantis, fatos do passado que podem nem ter ocorrido, ou seja, resultado de uma imaginação que foi repetida tantas vezes que virou uma memória. Assim, precisamos refletir: faz sentido nos apegarmos e continuarmos acreditando em crenças que nos geram sofrimento e nos atrapalham a realizar nossos sonhos?

* Daphne Rajab Cardia é psicóloga, formada na Universidade Vila Velha, MBA em Gestão de Pessoas pela FGV, Coach certificada pelo Instituto Brasileiro de Coaching, Consteladora Familiar Sistêmica formada pela Hellinger Schule Brasil, especialista em desenvolvimento pessoal e profissional. Tem como missão de vida ajudar as pessoas a tomar consciência de si mesmas e alcançar a vida plena.