Amizade verdadeira é aquela que independente do tempo longe, sempre estamos por perto. Afinal, amizade nunca foi e nunca será uma questão de presença física. Amizade é ser e não estar.
Eu estava já há algum tempo sem ter muitas notícias da Carol, até que meu celular vibra e eu vejo a mensagem: “Oi, como você conseguiu?”
Não entendi muito bem, mas só de ver a notificação “Mensagem de Carol Sanches” parece que uma enxurrada de memórias vieram em minha mente: dos jantares árabes, das risadas sobre fofocas, das músicas sertanejas ouvidas e sofridas e de muito estudo compartilhado.
Eu respondi: “Carol!!! Que saudade! Mas como eu consegui o quê?”
A próxima mensagem apertou meu coração: “Eu preciso de ajuda”.
Eu queria tanto que o tempo voltasse nesse exato momento, ter feito mais, falado mais, ido até lá.
Foram semanas de muita conversa, eu tentava dizer o quanto incrível ela era. Aquele cabelo, aquela conversa, aquela inteligência e aquele olhar…
Mas ela não via isso e pra mim era tão claro!
A notícia da morte da Carol dias depois foi a transformação da minha vida, de uma forma profunda e fundamental.
No momento, eu chorei, gritei, eu nunca tinha sentido uma tristeza tão grande.
Eu fiquei por meses com uma tristeza profunda, achando que jamais superaria isso. Chegava a sentir dor física, não dormia e não conseguia trabalhar direto.
Muitas pessoas vinham conversar comigo, trazendo uma palavra amiga, tentando me ajudar, e eu mentia que me sentia melhor, mas na verdade sentia muita dor por dentro.
Mas eu precisava ser forte e transformar toda aquela dor em amor.
Durante alguns dias, eu sonhava com ela e ficava pensando no que eu poderia fazer. Essa história não poderia ser esquecida.
Mesmo que ela tenha sido sempre muito discreta e que não gostava de exposição, ela também gostava de ser paparicada e precisava saber que sim, ela sempre foi muito amada por todos!
A mudança começou por mim, eu prometi nunca mais aceitar um relacionamento que não fosse saudável, passei a ter mais atenção aos meus amigos e familiares, foquei nos sonhos que eu tinha programado com ela e agora passo parte do meu tempo ajudando outras mulheres que precisam desabafar.
Depois disso, eu consegui o emprego dos meus sonhos, sinto uma felicidade dentro de mim e não a espero em outra pessoa.
De uma maneira estranha, a morte me salvou. A Carol me salvou. Eu sou muito grata por isso.
Deixei meu passado e minhas inseguranças pra trás. Por mais que isso pareça estranho, a morte da minha melhor amiga me deu a permissão de viver.
O pior momento da minha vida foi o mais transformador.
Eu sinto muito por ela ter morrido, mas preciso que ela saiba sobre o que me tornei hoje.
Obrigada, Carol.
*Aline Ambrogi é médica veterinária e fundadora da ONG Carol Sanches.