Publicidade

É chegada a hora de elaborar todas aquelas promessas que sempre fazemos pra nós mesmos mas não pretendemos cumprir, ou se pretendemos não queremos, ou se queremos não conseguimos. Àqueles que pretendem, querem e conseguem, rendo minhas sinceras e admiradas congratulações, pois fazem parte de uma guerreira e afortunada minoria. Escrevo aqui, pois, sobre a maioria comum, que assim como eu, não pretende, não quer, ou não consegue.

A lista de promessas é grande e nela cabe toda sorte de juras. De dietas a economias, de mais dedicação aos estudos a mais tempo pra fazer o que gostamos, e até a diminuir os vícios e manias. Tudo isso porque o calendário vai mudar ao estouro dos champagnes e, se o calendário muda, por que não eu? Também nós podemos virar a página desse romance que chamamos de vida, ainda que no fundo saibamos que a próxima página será exatamente igual à sua antecessora. Pois como cantaria o saudoso músico e poeta, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

Publicidade

O ano é novo, mas a atitude é velha. Assim como as piadas, que estão velhas, são ultrapassadas e antiquadas. Os votos idem: os mesmos de sempre, obsoletos. E aqui utilizo “os votos” com dois significados: aquele que diz respeito ao desejo, e aquele que diz respeito às eleições. Ambos velhos e obsoletos.

Ainda assim, alimentamos apaixonadamente as ilusões de que, ao alcançarmos zero horas do primeiro dia de janeiro, mudanças acontecerão. E tais ilusões ocupam, inconscientemente, uma função muito específica em nossa existência. Pois elas alimentam também a esperança. Ao estarmos esperançosos, nos convencemos de que, se preciso for, as mudanças acontecerão. E a esperança sim, se renova. Não é velha nem antiquada, não merece adjetivos indelicados. A esperança nos mantém firmes em dias trêmulos; calmos em momentos de desespero; iluminados em dias obscuros. Enfim, esperançosos, em anos de desesperança.

Vivemos portanto de ilusão, muitas vezes mais do que da própria realidade. Se a ilusão nos fosse retirada, não haveria esperança; nem promessas ou expectativas, tampouco sonhos e fantasias. Seguimos, pois, com as promessas de vida nova, ainda que alimentadas por ilusões. Pois a realidade é bem mais cruel. O ano é novo, mas a vida é velha.

*Anderson Loro é psicólogo e músico. Como psicólogo, atua em clínica particular e no serviço público pela Prefeitura de Poços de Caldas, com pessoas em situação de rua e com grupos de homens denunciados por meio da Lei Maria da Penha. Como músico, atua em diversos grupos, dentre eles a Banda Capitão Vinil.