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Atualmente, é bastante comum encontrarmos mulheres que ficam arrepiadas só de pensar na dor associada ao parto normal. Grande parte dessas mulheres acredita que o momento do parto seja um grande obstáculo a ser vencido e gostaria de poder pular essa parte, para poder conhecer o seu bebê sem passar por essa temida dor. A boa notícia é que, hoje em dia, existem diversos recursos para aliviar as dores associadas ao parto.

Alguns naturais, extremamente poderosos, como o uso do chuveiro, banheira, bola, massagens, etc., e outros farmacológicos, como a analgesia química, que pode ser utilizada quando os recursos naturais não são capazes de diminuir a sensação das dores, de maneira satisfatória, para uma mulher em trabalho de parto.

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O interessante é ressaltar que os métodos naturais também são ANALGÉSICOS! Sendo assim, para grande parte das mulheres, utilizar esses métodos pode ser o suficiente para aliviar as suas dores, de maneira que ela consiga passar pela experiência do trabalho de parto sem necessitar do auxílio da analgesia química.

Porém, para outras, a sensação de dor pode ser grande a ponto de inibir a progressão do trabalho de parto, devido à alta produção de adrenalina durante o processo. Nesse caso, a analgesia química é bem-vinda e pode auxiliar o trabalho de parto a retomar o seu ritmo e a evoluir de maneira mais satisfatória e prazerosa para a parturiente.

Vale explicar que, para que o trabalho de parto flua, é importante que haja a produção de ocitocina, um hormônio naturalmente produzido pela mulher, que auxilia na evolução do trabalho de parto. Esse hormônio é produzido quando a mulher se sente acolhida, tranquila e segura. Porém, quando a mulher está com medo ou estressada, ela produz o hormônio antagônico à ocitocina, que é a adrenalina. Quanto mais adrenalina, menos chance do trabalho de parto evoluir com tranquilidade.

O processo é bastante similar ao orgasmo. Quando a mulher está relaxada, ela tem mais facilidade de chegar ao clímax, o que geralmente não acontece quando ela está estressada, assustada, preocupada ou com medo. Os hormônios envolvidos, nesse caso, são os mesmos: ocitocina e adrenalina. É daqui que vem a famosa frase: “relaxa e goza”! Mas, nesse caso, o relaxamento vai ajudar a mulher a parir…

Sendo assim, diante de alguns casos, a analgesia química pode fazer toda a diferença durante o trabalho de parto. E não é nenhum demérito solicitar o uso desse recurso. Entretanto, a utilização da analgesia química pode ter algumas consequências associadas. E muitas mulheres não recebem informações sobre essas possíveis consequências. É por isso que a informação de qualidade faz toda diferença, pois a partir do momento em que a gestante tem noção de quais são essas consequências ela pode realmente optar, com consciência, pela não utilização ou utilização da analgesia.

Antes de tudo, vale a pena enfatizar que os métodos naturais de alívio da dor são extremamente eficazes para grande parte das mulheres, mesmo para aquelas que não acreditam no poder de tais recursos. Existem muitas mulheres que só se imaginam parindo com a utilização da analgesia química, porém, na hora do trabalho de parto, muitas se surpreendem com a “famosa” dor. Algumas não sentem tanta dor quanto imaginavam e outras conseguem passar tranquilamente por elas, com a utilização dos métodos naturais de alívio.

Então, é interessante utilizar os recursos naturais ANTES de recorrer aos recursos químicos, porque muitas mulheres, durante o parto, percebem que são mais fortes do que imaginavam.

Agora, quando a parturiente já tentou os recursos naturais e mesmo assim as dores continuam a incomodar de forma não saudável para ela, a analgesia química pode e deve entrar em ação (caso não haja nenhum impedimento relativo à saúde da parturiente).

Diferença da analgesia para a anestesia

Muitas vezes, quando mencionamos o “parto humanizado” ou o “parto natural”, vemos algumas mulheres franzindo a testa, acreditando que as mulheres estejam “negando os avanços da tecnologia” e os recursos disponíveis atualmente. Mas não se trata disso. Na verdade, estamos em defesa da segurança da mulher e do bebê e isso inclui: informação embasada cientificamente, atualizada e o poder de escolha. Sabe-se que o parto normal, na maior parte dos casos, é menos arriscado para mãe e bebê, quando são utilizadas o menor número de intervenções. E a analgesia é uma intervenção invasiva.

Ela realmente pode ser uma ferramenta importante no alívio da dor, mas a gestante deve ter ciência dos riscos associados ao uso desse recurso, para poder escolher com consciência.

Para esclarecer sobre esses riscos associados, antes de tudo, vamos explicar a diferença entre a ANALGESIA e a ANESTESIA.

Popularmente, costumamos ouvir gestantes dizendo que querem uma “anestesia”. Porém, na maior parte dos casos, o correto seria pedir pela “analgesia”, porque a anestesia faz com que a gestante perca a sensação dos movimentos, uma vez que ela promove um bloqueio sensorial e motor. É por isso que quando vamos fazer uma cirurgia, como a cesárea, por exemplo, precisamos da anestesia “para não sentir nada”. Mas, no caso de um parto normal, a anestesia pode dificultar a saída do bebê, uma vez que a gestante não consegue fazer “força” para auxiliar no nascimento.

Já o objetivo da analgesia é o de tira a dor, mas manter os movimentos. A intenção é a de se promover um bloqueio sensorial e não motor, eliminando a sensação de dor, sem impedir os movimentos.

Os compostos utilizados para que se chegue ao efeito de analgesia são anestésicos. Mas a dose utilizada e a escolha do tipo de anestesia podem ajudar a conseguir apenas o efeito analgésico.

Tipos de anestesia/analgesia

Peridural – Anestesia que é aplicada por punção lombar e administrada em baixas doses de anestésico através de um cateter. Ela pode ser aplicada mais de uma vez, em intervalos determinados, e a intenção é a de que se chegue a um efeito analgésico, no qual a gestante continue sentindo as contrações, mas sem dor e conseguindo se movimentar.

Raquidiana – Anestesia com ação imediata. É feita mais profundamente na coluna lombar, no espaço raquidiano, onde circula o líquido cefalorraquidiano. Causa o bloqueio motor e sensorial imediato, mas mantém a gestante consciente. Devido a isso, é comumente utilizada na cirurgia cesariana.

Duplo bloqueio – A duplo bloqueio é a mais comum em parto normal e é chamada também de anestesia combinada, pois contém a peridural junto com uma baixa dose da raquidiana, combinando o efeito das duas. Nessa combinação, a gestante recebe uma punção lombar e uma agulha é inserida dentro da outra para fazer a anestesia combinada.

Possíveis consequências

Como foi mencionado acima, embora a analgesia química seja uma grande aliada para o alívio das dores, ela pode causar algumas consequências no andamento do parto.

Segundo revisão da biblioteca Cochrane, a primeira dessas consequências é que o uso da analgesia pode interferir na percepção das contrações, ou seja, de acordo com a dosagem usada ou com a sensibilidade da mulher, a sua utilização pode fazer com que a parturiente tenha um bloqueio motor e deixe de sentir os puxos naturais.

Nesse caso, pode haver a necessidade da equipe que assiste ao parto realizar comandos de puxos dirigidos. Então, ao invés da mulher sentir o momento em que deve fazer “força” para o bebê sair, ela é guiada pela equipe, porque não consegue reconhecer esse momento. Em alguns casos, a parturiente tem até mesmo dificuldade para conseguir fazer a “força”, porque não consegue sentir nada da região do parto para baixo.

Os puxos dirigidos aumentam a chance do período expulsivo se prolongar e aumentam as chances de lacerações graves. Em alguns casos, nem mesmo com os puxos dirigidos a parturiente consegue auxiliar na saída do bebê e o uso do fórceps ou do vácuo extrator pode acabar se tornando necessário (parto instrumental).

Além disso, em muitos casos o uso da analgesia pode diminuir a liberação da ocitocina, hormônio que falamos acima e que é responsável por auxiliar na evolução do trabalho de parto. O uso da ocitocina sintética pode se tornar necessário, aumentando os riscos do bebê entrar em estado fetal não tranquilizador (“sofrimento fetal”: bradicardia ou taquicardia) e, por consequência, a cesárea de emergência pode acabar se tornando fundamental. Então, o uso da analgesia pode ser associado a um risco aumentado de cesáreas de emergência por “sofrimento fetal”.

Para o momento logo após o parto, o uso da analgesia também pode aumentar a chance da parturiente sentir coceira e tremedeira, bem como pode aumentar as chances de pressão baixa, febre e retenção urinária.

O melhor momento para aplicar a analgesia

Para aplicar a analgesia, quanto mais avançada a dilatação, melhor. Quando a analgesia é aplicada muito cedo, há um risco elevado de que aconteça a desaceleração da dilatação. Porém, quando a dilatação está sem progressão há algum tempo (“parada de progressão”), a aplicação da analgesia pode ajudar a parturiente a relaxar e a elevar os níveis de ocitocina natural, auxiliando o trabalho de parto e progredir.

Conclusão

A utilização da analgesia química é bem-vinda e esse recurso deve estar disponível para as parturientes, quando essa for a escolha. Porém, elas devem estar cientes sobre os riscos e benefícios, para que possam tomar decisões informadas. Antes da utilização da analgesia química, vale a pena investir nos métodos naturais de alívio, uma vez que a ciência prova que o parto natural é mais seguro para a mãe e para o bebê, na maior parte dos casos. A mulher que recebe informações sobre as possíveis consequências do uso da analgesia química durante e depois do parto, tem uma tendência maior a utilizar esse recurso apenas em caso de real necessidade, quando os benefícios do uso superam o risco de alguma forma.

Referências bibliográficas

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Simmons Scott W, Cyna Allan M, Dennis Alicia T, Hughes Damien. Combined spinal-epidural versus epidural analgesia in labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 07, Art. No. CD003401. DOI: 10.1002/14651858.CD003401.pub4

*Bia Câmara é atriz, relações públicas, criadora do canal Minha Opinião Materna, uma das coordenadoras do Círculo Materno, diretora da Cia. BrinCanto, professora e diretora do curso de teatro musical da Vivace e mãe do Bento e do Antônio.