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Na contramão das pessoas que insistem em afirmar que os cabelos brancos envelhecem as mulheres, vemos surgir uma “turma” descolada, composta por um número crescente de mulheres, que deixam de pintar os seus cabelos, conforme pedem as convenções estéticas ditadas pelo “padrão de beleza”.

E eu posso falar com propriedade sobre essa “turma”, porque sou uma dessas mulheres.

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Os cabelos brancos para as mulheres eram, e ainda são, frequentemente associados à velhice; e na sociedade atual, tudo o que é “velho” tem uma tendência a ser considerado ultrapassado e passível de descarte.

Devido a isso, vemos com frequência, mulheres combatendo todos os sinais que possam indicar o envelhecimento. As mulheres que não fazem isso são consideradas desleixadas pela maioria das pessoas que seguem tal padrão.

Em contrapartida, os cabelos brancos para os homens são considerados sinais de experiência, maturidade e charme.

Por conta da repetição desses padrões durante anos, os cabelos brancos para mulheres foram se tornando, cada vez mais, sinônimo de velhice, uma vez que a maioria das mulheres só se permitia assumi-los ao chegar à “terceira idade”.

Mas o fato é que, para grande parte das mulheres, esses fios brancos começam a aparecer por volta dos 35/ 40 anos, quando não aparecem ainda na juventude, durante os vinte e poucos (comigo foi assim….). Então, se eles surgem cedo, por que só podem ser aceitos na velhice?

Se pararmos para pensar, branco é uma cor como outra qualquer: castanho, preto, ruivo. E sim, pode ser uma linda cor para os cabelos.

Vemos hoje um movimento que tenta desconstruir os padrões de beleza impostos pela sociedade, no qual o empoderamento feminino vem fortalecendo as mulheres para que aceitem suas belezas individuais e naturais.

A valorização extrema do conceito de beleza, dentro de rígidos padrões estéticos, gerou e continua gerando muitos problemas de autoestima, problemas de saúde e problemas psicológicos, desenvolvidos principalmente por mulheres que não conseguem ou acham que não conseguem alcançar o que lhes é imposto para serem consideradas “bonitas”.

Porém, não são todas as mulheres que se sentem confortáveis tendo que seguir esse padrão imposto.

E nesse sentido, para essas mulheres, a possibilidade de assumir os fios brancos é libertadora.

Obviamente, vale ressaltar que nenhuma mulher é obrigada a gostar dos cabelos brancos, mas aceitar que essa é uma tendência ajuda a quebrar o preconceito em relação às mulheres que decidirem aderir. Vale cabelo loiro, castanho, preto, azul, verde, rosa, roxo…e branco também!

Ou seja, em relação a padrões estéticos, devemos ter liberdade para sermos quem quisermos. Inclusive, grisalhas!

Recentemente, presenciou-se uma tendência dos cabelos brancos até mesmo na moda, o que vem ajudando muito na aceitação dessa cor.  A partir da aparição da personagem “Miranda Priestly”, interpretada por Meryl Streep, no filme “O diabo veste Prada”, os cabelos brancos começaram, aos poucos, a serem associados com atitude. A personagem era extremamente poderosa e as madeixas brancas fizeram toda a diferença em sua composição. Desde então, os cabelos brancos vêm sendo ressignificados por parte de mulheres e pelo meio social como um todo e vemos até mesmo jovens tingindo os cabelos em tons de cinza ou branco.

Mas ainda há muita resistência por parte das pessoas com cabeça “mais fechada”, devido à falta de costume e à antiga associação. A sociedade patriarcal ainda valoriza mulheres jovens, com cabelos longos e coloridos, representando o conceito de jovialidade.  Por isso, a onda prateada geralmente é protagonizada por mulheres seguras de si, conectadas com a sua beleza própria, independente do que lhes é imposto.

Verifica-se, inclusive, que algumas das mulheres que escolhem assumir seus cabelos brancos o fazem como forma de ativismo. Pretendem mudar o padrão de que o cabelo grisalho deve ser obrigatoriamente escondido, para que os julgamentos não aconteçam. Optam por acabar com a dependência das tintas e incorporam o conceito de tempo em seu visual geral. Porque, por mais óbvio que possa parecer, o cabelo branco não faz a pessoa ser velha!

E afinal de contas, qual a diferença entre os cabelos brancos dos homens e das mulheres?

É importante que a gente compreenda que o conceito de que os cabelos brancos seriam sinal de envelhecimento para as mulheres é algo CULTURAL. E isso aconteceu porque durante muitos anos, a maioria das mulheres só se permitiam deixar as madeixas brancas aparecerem quando estavam, de fato, mais velhas. Porém, para muitas delas, os cabelos brancos sempre estiveram ali e eram pintados frequentemente para que não aparecessem, na maior parte dos casos, por medo do julgamento.

Para quem quer aderir, é importante saber que o momento de incorporar o grisalho passa por uma fase de transição, que pode ser demorada e exigir paciência.

Pior do que os cabelos brancos, há o medo do cabelo “bicolor”, metade com a cor natural ou tingido e metade branco. A opinião alheia é um dos maiores problemas para quem quer assumir os cabelos brancos, por conta da pressão externa e dos julgamentos – o que fazer com o medo de ser vista como desleixada e descuidada?

A boa notícia é que, para quem busca inspiração e apoio, atualmente há muitos grupos no Facebook e canais no Youtube, que abordam o assunto.

Além disso, existem algumas opções intermediárias, que podem facilitar o processo de transição capilar:

1 – Mechas invertidas:  fazer mechas “acinzentadas” na parte colorida do cabelo, de baixo para cima, evitando que a linha de separação do branco fique muito forte;

2 – Descolorir todo o cabelo e tonalizar com tons acinzentados.

3 – “Big Chop”: cortar bem curtinho para o cabelo crescer natural.

Este é mais um avanço dentro de um mundo preocupado com a aceitação das diferenças. Da próxima vez que você cruzar com uma mulher grisalha, procure evitar o preconceito. É natural que as mudanças físicas ocorram conosco, para algumas pessoas antes, para outras depois. Mudamos fisicamente e intelectualmente. Mudamos frequentemente. Para quem não quer mascarar tais mudanças, deve existir espaço. As mulheres que passam por essa transição, assumindo seus fios brancos, sentem-se libertadas, seja do tempo dedicado à tintura e à manutenção da cor ou do medo de parecerem velhas. A aceitação dos cabelos brancos reflete o orgulho de fazer parte de uma mudança social, na qual a tintura passa a ser uma opção e não mais uma obrigação para as mulheres, assim como para os homens.

*Bia Câmara é atriz, relações públicas, criadora do canal Minha Opinião Materna, uma das coordenadoras do Círculo Materno, diretora da Cia. BrinCanto, professora e diretora do curso de teatro musical da Vivace e mãe do Bento e do Antônio.