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A gestação é um momento singular na vida de uma mulher.

Envolve inúmeras novidades provocadas pelas mudanças físicas, mudanças na rotina familiar e pela elevada carga emocional trazida pela nova experiência. É um período de muitas transformações, expectativa, insegurança e dúvidas em relação à responsabilização sobre uma nova vida. E todas essas sensações podem ser vivenciadas de maneira mais tranquila quando as pessoas envolvidas nesse processo (sejam mãe e pai ou mãe e acompanhantes em geral) dedicam um tempo para se preparar para essas experiências.

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Hoje em dia, a maior parte das mulheres vivencia um processo de gestação bastante solitário. As famílias diminuíram de tamanho e nem sempre é possível ter a mãe, irmãs, ou outras mulheres da família para compartilhar experiências. Além disso, as mulheres, quando engravidam, percebem que sabem muito pouco sobre a gestação como um todo. Inclusive, descobrem que algumas coisas que aprenderam na escola estão equivocadas, como a contagem do processo por meses (a gestação, na realidade, é contada por semanas).

Sendo assim, grande parte das gestantes acaba recorrendo aos médicos para esclarecer todos os seus anseios momentâneos, acreditando que as consultas e exames realizados durante o pré-natal, assim como as orientações médicas que recebem, serão suficientes para prepará-las.

Porém, as consultas pré-natais seguem o modelo biomédico e, geralmente, têm o tempo bastante limitado. Muitas vezes, a gestante leva uma lista de dúvidas para esclarecer, mas é difícil ter tempo para conseguir eliminar todas elas.

Devido a isso, apesar de sua essencial contribuição e fundamental importância, percebe-se que as consultas não são capazes de contemplar a complexidade dos anseios e sentimentos da maioria das gestantes e também não fornecem contribuições críticas para a mesma.

Refletindo sobre a qualidade do pré-natal, o Ministério da Saúde aponta as ações educativas como a melhor forma de assistir a gestante. O processo educativo é um instrumento de socialização de saberes, de promoção da saúde e de prevenção de doenças. E é nesse ponto que os grupos de apoio ao parto se destacam, pois possibilitam o intercâmbio de experiências e conhecimentos, sendo considerados a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. 

Os grupos de apoio podem fornecer subsídios para que as gestantes (e o seu acompanhante) possam refletir sobre as diversas visões e condutas adotadas no processo de nascer, assumindo, desta forma, o protagonismo deste processo. Assim, o processo educativo com gestantes, desenvolvido no âmbito grupal, é um instrumento que favorece a autonomia das gestantes e familiares no processo de nascimento, já que capacita mulheres e homens para fazerem escolhas na gravidez, no parto, no nascimento e no pós-parto.

Os grupos de apoio a gestantes geralmente são gratuitos e costumam ser realizados em locais determinados. As gestantes se reúnem e trocam experiências, enquanto são orientadas por algum profissional da área da saúde ou pessoas que trabalham voluntariamente disseminando informações embasadas cientificamente sobre o parto. Os encontros costumam ser descontraídos e divertidos, porque cada gestante pode expor as suas inseguranças em um ambiente acolhedor, uma vez que todas as mulheres estão vivenciando dilemas similares.
Os grupos têm, como objetivo, desmistificar e rever crenças e mitos relativos à gestação, ao parto e pós-parto, para ampliar saberes sobre tudo o que será vivenciado durante esses momentos, incentivar as formas de participação do companheiro/acompanhante, informar sobre os cuidados consigo e com o bebê e esclarecer os direitos da mulher em todo o processo.

As gestantes (e acompanhantes) geralmente são estimuladas a ampliar seus conhecimentos por meio de leituras e bibliografias indicadas e conhecer os recursos de que a comunidade local ou regional dispõe. Além disso, muitas vezes são utilizados materiais adicionais de apoio, como vídeos e fotos, e também costumam ser disseminadas informações sobre novas leis que envolvem a gestação, o parto, o puerpério e os direitos reprodutivos e sexuais, possibilitando ao casal e à gestante reivindicarem seus direitos e proporem mudanças na assistência.

Segundo a pesquisa documental “PROCESSO EDUCATIVO COM GESTANTES E CASAIS GRÁVIDOS: POSSIBILIDADE PARA TRANSFORMAÇÃO E REFLEXÃO DA REALIDADE”,  a possibilidade de compartilhar conhecimentos e vivências no grupo “fortaleceu os potenciais das gestantes (e acompanhantes), reduziu medos e deu tranquilidade para seguir o ritmo e os sinais emitidos pelo corpo da gestante, aumentou a confiança para fazerem escolhas sobre os vários tipos de parto (vantagens e desvantagens), assim como conhecer as técnicas não farmacológicas para minimizar as sensações dolorosas. Além disso, deu mais segurança e esclareceu dúvidas para decidir qual a hora de ir para maternidade e condutas para cuidar de si e do filho e para se posicionar em relação aos inúmeros “palpites” proferidos por pessoas do seu círculo de relacionamento”.

Aqui em Poços de Caldas, temos diversos grupos de apoio ao parto.

O “Círculo Materno”, atuante há cinco anos, promove encontros quinzenais gratuitos e sempre tem um tema para conduzir os encontros. Não é necessária inscrição prévia e não há frequência mínima. Se o tema interessar, basta comparecer ao encontro. Nesse mesmo estilo, também existe o grupo “MAE” e agora a Santa Casa está organizando alguns encontros, através do “Projeto Borboleta”. Além disso, existem outros estilos de grupos, como o reconhecido programa promovido pelo “Materno Infantil” e os encontros que acontecem no grupo espírita das Samaritanas, que tem uma quantidade de encontros que dependem de frequência mínima. Alguns postos de saúde da cidade também organizam grupos com as gestantes cadastradas, em seus respectivos bairros.

Verifica-se, portanto, que a oportunidade de participar de grupos de apoio a gestantes promove a troca de saberes, sentimentos e vivências sobre as etapas do processo de nascimento, possibilitando aos participantes que construam coletivamente o conhecimento, reelaborando suas compreensões sobre o processo de nascimento e escolhendo alternativas saudáveis e seguras para vivenciar o processo. Além disso, os grupos de apoio ao parto auxiliam também a diminuir a constante violência obstétrica vivenciada pelas gestantes, à medida em que esclarecem seus direitos e disseminam informações embasadas cientificamente sobre a gestação, parto e pós-parto.

*Bia Câmara é atriz, relações públicas, criadora do canal Minha Opinião Materna, uma das coordenadoras do Círculo Materno, diretora da Cia. BrinCanto, professora e diretora do curso de teatro musical da Vivace e mãe do Bento e do Antônio.