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Poços de Caldas

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Imigrantes japoneses contam histórias de superação e amor ao Brasil

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Sensei Matsuo e Seu Kikuchi (foto: Gabriela Bandeira/ Poços Já).

Um buscava uma forma de recomeçar, o outro deixava o país atrás de novas oportunidades de trabalho. Um veio de Tóquio, capital do Japão, o outro da província Iwate. Os caminhos podem ter sido diferentes, assim como as vidas que tiveram, mas ambos acreditaram no mesmo destino: Poços de Caldas. Essa é a primeira da série de reportagens especiais em celebração ao Dia do Imigrante, comemorado no próximo domingo (25).

A maior cidade do Sul de Minas foi escolhida por Kou Kikuchi e Matsuhisa Matsuo como lar. Do Japão, guardam inúmeras recordações, mas uma delas é marcante. “Eu tinha dois anos, era março de 1945 e os Estados Unidos atacaram Tóquio. Naquela época, as casas japonesas eram todas feitas de madeira. Eles jogaram gasolina e começaram a bombardear, mais de 100 mil pessoas morreram naquela noite”, relembra Matsuo.

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Kikuchi estava no Japão no período da Segunda Guerra Mundial, quando decidiu migrar para o Brasil. “O Japão inteiro sofreu, não só durante a guerra, mas também depois. Foi mais de um ano para reconstruir tudo. Eu tinha 24 anos e o jovem sempre tem esperanças, sonhos. Mas sonho é uma coisa, realidade é bastante rigorosa. Escolhi o Brasil, porque tem bastante imigrante japonês aqui”, conta.

Kikuchi (ao meio), com a irmã e o filho mais velho, já em Poços de Caldas (foto: Arquivo Pessoal).

Determinado, se matriculou em aulas de português. Depois de três meses, entrou num navio com destino a Santos (SP). A viagem durou 45 dias. Quem o recebeu foi um homem que o levaria para trabalhar em uma fazenda no município de São Miguel Paulista. Meses depois, um amigo do Japão o convidou para trabalhar numa plantação de batatas.  “A gente mudou para Minas Gerais, porque o patrão disse que aqui era mais fresco, melhor para plantar. Em 1977 fiquei doente, 12 dias internado na Santa Casa, quase morri. Foi quando parei e com o pouco dinheiro que tinha comprei uma mercearia”, comenta.

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Matsuo veio para o Brasil com 20 anos. Apesar de ter decidido morar no país com 16, quis fazer faculdade antes. “Eu estudei agronomia no Japão, quatro anos só para trabalhar no Brasil. Comecei a trabalhar em Belém do Pará, em plantações de pimenta e tomate. Depois, mudei para Brasília, São Paulo e Paraná. Trabalhei por sete anos na fazenda. Um amigo de Londrina me mostrou uma academia de judô e comecei a dar aulas lá. Era a academia mais forte do Paraná. Depois vim para Poços, trabalhar na Mitsui. Fiquei lá por quatro anos, dando aulas de judô à noite. Foi aí que decidi só dar aulas”, narra.

Matsuo (à frente, primeiro da direita para a esquerda) ao lado da família, pouco antes de deixar o Japão (Foto: arquivo pessoal).

Profissão Sensei

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Desde que chegou em Poços, Matsuo se dedica às aulas de judô que ministra diariamente em um ginásio no bairro Vilas Unidas. Conhecido por ser bastante rígido e disciplinado, o sensei revela que seus métodos já foram muito questionados por pais de alunos. “No Japão, a gente treinava bastante, é muito rígido. Aqui, eu comecei a fazer assim, algumas crianças saíam chorando e os pais achavam que eu estava judiando. Foi bem difícil. Mas hoje, se meus alunos treinam bem e eu trabalho bem, quando termina a aula, eu me sinto muito feliz”.

Nem a doença o fez parar. Há dois anos Matsuo pegou pneumonia. Foram cinco meses de internação, mas as aulas continuaram. “A maior parte do que faço é ficar sentado e dar orientação para os meus alunos. Eles não me deixam sair. Recebi salário da Prefeitura até quatro anos atrás, mas quando completei 70 anos cortaram. Estou lá sem receber nada”, desabafa.

Matsuo treinava judô no Japão (foto: Arquivo Pessoal).

Sem perder os costumes adquiridos no Japão, ensinou os alunos a pronunciar uma série de cumprimentos japoneses, como Ohayou gozaimasu (bom dia), konnichiwa (boa tarde), arigatou gozaimasu (muito obrigado), sayounara (tchau) e outros, além de cantar cações típicas do país.

Quem também usa a música para embalar suas aulas é Seu Kikuchi, professor particular. Na sala de casa, ensina japonês para os alunos por um preço acessível. “Eu gosto de conversar com jovens. Digo que estou ensinando, mas quem está aprendendo sou eu. Meu objetivo eterno é aprender a falar português direitinho. Lendo, devagar, eu entendo, mas tem algumas palavras que são difíceis”, brinca.

Kikuchi dá aulas de língua japonesa na sala de casa (foto: Gabriela Bandeira/ Poços Já).

Apesar de ministrar aulas de língua japonesa, os três filhos, nascidos e criados no Brasil, pouco sabem sobre o idioma. “Eles conhecem outros países, mas não foram para o Japão ainda. Não sabem falar japonês”. Seu Kikuchi acredita que isso esteja ligado ao fato dos filhos terem crescido em uma mercearia que a família teve, no bairro Cascatinha. “O pessoal chamava a gente de Seu João e Dona Maria, é mais fácil do que tentar falar os nomes, né? Como eles ficavam muito tempo lá, os clientes só falavam português e eles também. Isso é bom, porque se falassem outra língua, os clientes podiam se sentir desrespeitados, não confiar muito”, explica.

Desde que se mudou para o Brasil, ele visitou o Japão três vezes. A última foi em 1994.  Ainda assim, afirma preferir o Brasil. “Existem duas razões para eu ficar aqui. Uma delas é o tempo. O clima aqui é muito bom mesmo, não tem neve, não tem tempestade, tsunami. A outra são os brasileiros. Brasileiro é alegre, aberto, não tem comparação”, finaliza.

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