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A vida em um quarto de hotel

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José Eduardo, Maria Luísa e Ludmila Luísa perderam tudo e agora moram em um hotel na cidade de Mariana.
José Eduardo, Maria Luísa e Ludmila Luísa perderam tudo e agora moram em um hotel na cidade de Mariana.

São mais ou menos sete horas da noite. Chegamos ao hotel e logo puxamos assunto com o senhor que está sentado na calçada em frente ao prédio. É José Eduardo dos Reis, de 61 anos. A casa dele foi devorada pela lama e agora divide um quarto no hotel com a esposa e a filha, com as despesas pagas pela Samarco.

Após nossa insistência, ele pede autorização para a mulher e nos convida a subir. No banco da recepção, cerca de 20 marmitex para os hóspedes. Uma mulher pede talheres e recebe a colher de plástico.

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O quarto é apertado e os moradores dividem o tempo entre varanda, camas e banheiro. Há uma cama de casal e outra de solteiro. No lugar do armário, uma prateleira. A televisão parece ficar o tempo todo ligada. Em cima da pequena mesa, as marmitex.

A filha do casal, Ludmila Luísa de Souza Reis, de 21 anos, também mora no quarto. Resistente no início, depois de dez minutos de conversa sai da varanda e senta na cama. Todos paramos para ouvir o relato da mãe e esposa, Maria Luísa de Souza Reis, de 63 anos.

Para ela, agora a vida é bem diferente da que levava em Bento Rodrigues. “Sai daqui, vai ali na varanda. Você vai ficar aqui só deitado, dormindo? Aqui não tem jeito de lavar roupa, de fazer nada. Eu já acostumei, não sei ficar parada. Fico até doente. Eu gostava muito de morar lá, era um lugar sossegado, nada amolava a gente. Tinha onde plantar uma horta, criar uma criação. Se alugar uma casa aqui para morar, vai criar galinha, porco, cachorro, animal? Aqui não tem jeito”, compara.

A filha reclama que no início vinham muitos representantes da Samarco, empresa responsável pela barragem que estourou. Agora, “eles sumiram”. Quem também sumiu foi o irmão de Maria Luísa, que está desaparecido desde o dia da tragédia. Mas todos sabemos: ele não foi encontrado porque está morto.

Enxugando lágrima por lágrima, a senhora conta como aconteceu. “Você via aquela lama descendo, revirando tudo, trazendo água, trazendo amigo por água abaixo. Eu peguei e gritei ‘Corre Totó, corre Totó, que a represa aí vem’. Ele não acreditou não. Saiu pra por água pras criação.”

Mãe e filha estavam em casa no momento em que a barragem estourou. Elas foram avisadas por vizinhos e fugiram rumo à parte mais alta. O pai estava trabalhando fora do distrito. “Nós saímos correndo, a galope, morro acima. Foi arrancando pé de manga, bambu, animal, criação, tudo descendo por água abaixo. Foi embora até uma colega minha, que morava perto de mim. A água apanhou ela, não deu tempo dela sair da lama”, recorda Maria Luísa.

Foram trinta minutos de conversa. Neste tempo todo, as três marmitex ficaram intactas em cima da mesa.

 



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