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Poços de Caldas

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Minha vida sem café

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Sou mineiro do sul. Nasci à sombra de uma colina e cresci tropeçando pelos belos e tortuosos caminhos que nos cercam. De tanto subir e descer as ladeiras, minhas articulações dos membros inferiores se mostram desgastadas, rangendo nas engrenagens enquanto insisto em continuar caminhando por esta vida.

Ainda que dolorido e meio manco, enquanto Deus me der o sentido da visão vou continuar olhando prazerosamente para as lonjuras coloridas de verde, que se fazem douradas nos fins de tarde, e para os horizontes curvilíneos que se descortinam a perder de vista.

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Horizontes na maior parte das vezes recobertos com o verde escuro das folhas do cafeeiro, o atual ouro de Minas. Que, convenhamos, por vezes se faz prata e até bronze, ao sabor do mercado.

Certamente uma das primeiras palavras que ouvi, na tenra infância, foi a denominação popular dessa planta milagrosa de origem africana, nas terras altas da Etiópia: Café. Sempre acordei ouvindo essa palavra, assim como aconteceu com a grande maioria dos brasileiros.

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Alguns dizem que a palavra é originária de Kaffa, possível local de origem da planta. Outros afirmam que vem do termo “qahwa” que quer dizer vinho, traduzindo a importância que a planta adquiriu no mundo árabe desde que suas propriedades foram descobertas.

Não sei quem está com a razão. Também não interessa. O que interessa é a importância que a planta adquiriu por aqui, tornando-se parte dos hábitos mais frequentes do brasileiro. Mesmo já meio esquecido, com as memórias mais antigas adquirindo tons pastéis na minha mente, nunca vou esquecer a voz de minha mãe chamando de manhãzinha: “Vem tomar café!”.

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Acredito que com a maioria das pessoas também foi assim. Até mesmo para aqueles que nunca tomaram café de manhã. Tem de tudo nesta vida, tem até quem não goste de café pela manhã. Tem quem prefira chá. De hortelã, de erva-doce, de camomila, de canela. De muitas outras substâncias, várias delas alucinógenas.

Tem quem goste de leite com chocolate e outras bebidas menos votadas. Mas eu sempre fui gostador de café pela manhã. E quando minha mãe me chamava para tomar café, eu tomava café, mesmo! Muito café! Bastante café! E passei a vida assim, tomando muito café, de preferência sem açúcar.

E quando me perguntavam por que eu tomava café sem açúcar, eu respondia: “Simplesmente porque eu gosto é de café. Se gostasse do açúcar, não precisava do café!”.

E quantas voltas a vida dá, né não? Hoje em dia não tomo mais café, com raríssimas exceções. O meu combustível matinal preferido, que fazia meu cérebro funcionar a duzentos por hora e minhas reações acelerarem muito além do normal, foi abandonado.

O café me deixava muito agitado e ansioso, contribuindo para o descontrole da pressão arterial. Mas não há nenhum problema nisso. Não, mesmo! Já tomei muito café. Agora tomo chá. Sem açúcar também, mas com adoçante.

Ironias, né mesmo? Se sinto falta do café pela manhã? Claro que sinto! Ele fez parte de uns – quantos seriam? – noventa e seis por cento das minhas manhãs? Não sei direito, é por aí!

Assim, na atualidade, posso dizer que hoje levo uma vida descafeinada. No entanto, isto é fácil de constatar, nunca poderei eliminar totalmente o café da minha vida. Ele está nos cheiros que desprendem das cozinhas vizinhas no início de todos os dias, nas placas dos comércios pelo centro da cidade, nos bares e lanchonetes, nos caminhões que circulam pelas nossas estradas e, principalmente, nos maravilhosos horizontes, próximos e distantes, que circundam nossas vidas de mineiros do sul.

Curvilíneos horizontes verdes e dourados que, enquanto puder enxergar, nunca me cansarei de admirar e amar.

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