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É proibido ficar triste?

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Prezados companheiros, aqui vamos abordar um tema muito discutido na atualidade: a depressão e seus desdobramentos. Em primeiro lugar, temos que nos perguntar: o que realmente é a depressão? Tal questionamento gera reflexão, que com certeza irá gerar outros questionamentos. Alguns desses questionamentos estão colocados mais adiante e, neste sentido, iremos lançar apenas uma “semente” para pensarmos melhor a respeito do tema.

– O que é a depressão?

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Segundo o CID-10, Código Internacional de Classificação de Doenças, a depressão ocorre em diferentes graus de intensidade. Basicamente, seus sintomas são: rebaixamento do humor, redução da energia, diminuição da atividade, alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração e fadiga aparentemente sem motivo. Geralmente acontecem mudanças no sono e no apetite. Nota-se que alguns sintomas são somáticos, ou seja, tem impactos no corpo da pessoa. Então se pode dizer que a depressão, assim como qualquer outra patologia de cunho psicológico, também pode causar alterações físicas.

O fato é que o termo “depressão” é utilizado de maneira errônea pelo senso comum. Exatamente por se tratar de uma doença comum, seu nome cai nas graças do povo, que passa a considerar qualquer sintoma de tristeza como uma depressão.

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Então, vem outro questionamento importante:

– O que é a tristeza? É proibido ficar triste?

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Vivemos em um mundo bastante moralista e criamos uma imagem muito negativa da tristeza: de que ela é ruim, de que não se pode ficar triste, de que quem fica triste é porque tem muitos problemas, de que pessoas que se deixam levar pela tristeza não tem força de vontade ou até mesmo amor próprio. Tudo baboseira.

Somos todos seres humanos, e negar a tristeza é negar a própria humanidade. Isso porque a tristeza é condição humana – pois não se vive sem tristezas, mas se vive apesar delas – e não existe nenhum ser no mundo que é feliz ou alegre o tempo todo. E isso é fato: ninguém é 100% feliz, ninguém se ama 100% do tempo, ninguém controla 100% da sua vida. Algumas pessoas até apresentam essa postura mas, de fato, estão enganando somente a si próprias. A tristeza exerce um papel fundamental na vida humana e dela muitas lições podem ser tiradas.

Nesse contexto, uma das maiores funções da psicologia não é preparar seres humanos para serem isentos de tristeza, mas sim prepará-los para conviver com a tristeza de maneira mais pacífica e sublime, de vivenciá-la com maturidade. Com certeza, uma pessoa que sabe vivenciar a sua própria condição de tristeza é muito mais forte e psicologicamente estruturada que uma pessoa que nega a tristeza a qualquer custo. Poeticamente falando, enfrentar a tristeza não é matá-la, mas sim dialogar com ela. Já dizia a máxima popular: se não pode vencê-la, junte-se a ela.

– Como sabemos diferenciar a tristeza da depressão?

Eis aí a maior discussão. É uma linha tênue. A grosso modo, a depressão se diferencia da tristeza comum por se tratar de uma condição mais duradoura ou de maior intensidade. A sintomática nos diz tudo. Na depressão, o sujeito se torna um pouco mais lento, mais abatido, sem interesse por coisas que normalmente teria. São os maiores indicadores de depressão.

Choro não é sintoma. Se todos os que choram sofressem de depressão, então seríamos todos depressivos. O choro entra no grupo da tristeza, de condição humana que é malvista pela sociedade moralista atual.

Ficar triste é normal, todos ficamos em algum momento da vida. A morte de um ente querido, um projeto de vida que não vingou, o término de um relacionamento, uma situação que foge ao nosso controle; todos são exemplos de acontecimentos tristes, porém cotidianos. Devemos estar preparados para lidar com essas frustrações, pois elas acontecem o tempo todo.

O ser humano tende a construir mecanismos de defesa do ego, nos quais acredita que tudo está sobre seu controle, mas o fato é que não temos absolutamente nada sob nosso controle. Quando nos deparamos com essa realidade, vem a frustração. Saber lidar com ela é imprescindível, assim como reconhecer que ela está lá porque somos imperfeitos. Isso também não é depressão. Depressão é uma doença que precisa de cuidados.

– Depressão tem cura?

Sim.  Em alguns casos, faz-se necessário o tratamento com medicamentos, geralmente antidepressivos. Em outros, somente o processo de psicoterapia é muito eficaz no enfrentamento da doença. Em casos mais graves, o ideal é que se tenha os dois: o diálogo entre o tratamento psiquiátrico e psicológico.

Existe uma grande tendência, principalmente na saúde pública, de tratar esse tipo de transtorno apenas com medicação. Corre-se um risco muito sério: a medicação apenas age no sintoma. Qualquer que seja a raiz psicológica do transtorno, não irá desaparecer com o uso da medicação. É como se uma criança dormisse no sereno e amanhecesse com tosse: o xarope irá agir na tosse, mas não na causa dela. Se a criança voltar a dormir no sereno, de nada o xarope terá adiantado. Obviamente, quando estamos falando sobre a psique humana, a questão é bem mais complexa, e por isso a psicoterapia é imprescindível nesses casos. Além disso, existe uma questão bastante polêmica quanto ao uso da medicação: se ela altera estado de humor, atitudes e pensamentos, ela não estará alterando o próprio sujeito? Se pensarmos nesse sentido, o sujeito que toma a medicação estará deixando de ser ele mesmo, quem ele realmente é.

Esta é uma discussão que pode ir longe, e podemos abordá-la em outro momento. O que é necessário saber agora é que algumas pessoas só terão resultado com o uso de medicação, mas para que não haja o perigo citado acima existe também a necessidade de psicoterapia.

Há ainda um terceiro fator de cura, mas não menos importante: o próprio sujeito. Não há remédio, psicólogo ou Jesus Cristo que cure o sujeito se este não se sentir responsável pela própria condição e pelo próprio tratamento. Aqui não estamos falando de culpa, mas sim de responsabilidade. Se você não se responsabilizar pela sua própria condição, quem se responsabilizará?

Quando o sujeito está ativo e engajado no processo terapêutico, sabendo de suas limitações e virtudes, qualquer doença pode ser tratada. Até mesmo o câncer. Com a depressão não é diferente. Embora nessa doença geralmente haja uma indisposição do sujeito para se tornar ativo, responsabilizá-lo pelo próprio tratamento é indispensável.

Para a tristeza, o único tratamento que existe é aceitá-la e tirar as lições que com certeza ela trará. Já para a depressão, há tratamento: o triângulo psicoterapia-medicação-responsabilização do sujeito é muito eficaz.

Se soubermos diferenciar um episódio de tristeza de um episódio de depressão, e encaminharmos o sujeito depressivo corretamente, tudo indica que teremos melhores resultados no enfrentamento deste mal. Logicamente, os questionamentos acima realizados podem nos trazer discussões muito mais polêmicas e ricas. O objetivo desse periódico foi apenas dar uma introdução ao tema, para que possamos abrir novas discussões a respeito. Portanto, se sintam à vontade para comentar, perguntar ou criticar, pois sua opinião será fundamental para as próximas discussões.

*O autor é psicólogo

 

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