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As investigações da morte de Deisele de Cássia Roque, de 33 anos, ainda estão sendo realizadas pela Polícia Civil de Poços de Caldas, mas a localização do corpo e novos depoimentos já esclareceram a motivação do crime e parte do que aconteceu nos dias que antecederam a execução. Segundo a polícia, Deisiele enganou Mislaine Silva de Lima, de 25 anos, usando um perfil falso no Facebook, com o qual extorquiu cerca de R$ 6 mil.

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Corpo foi encontrado na quinta-feira (15) (foto: Mariana Negrini/Poços Já)

Os novos elementos da investigação foram apresentados à imprensa na manhã desta sexta-feira (16) pelo delegado Cleyson Rodrigo Brene. Ele explica que a dívida não tinha relação com o tráfico de drogas, nem mesmo com empréstimos pessoais. “A vítima se dizia membro de uma facção criminosa, mas não era membro. Ela criou perfis falsos nas redes sociais, que seriam padrinhos dela na organização. Quando ela conheceu a autora (Mislaine) e soube do interesse dela em ser da facção, usou um de seus perfis falsos para contatar a autora. Usando uma conta com nome de Luciano Leandro, uma pessoa que estaria presa em outra cidade, ela começou a namorar virtualmente com a autora Mislaine, sua amiga”, explica o delegado.

As informações ainda podem ser confirmadas pela internet, onde o perfil apresenta publicações do suposto rapaz e Mislaine, foto de alianças prometendo casamento e inclusive comentários da vítima parabenizando o casal. “O envolvimento foi tão significativo para a autora que ela chegou a tatuar o nome desse namorado em suas partes íntimas”, conta Cleyson.

Autora tinha um relacionamento virtual com personagem criado por Deisiele (foto: Redes Sociais)

O relacionamento começou no final de 2018 e perdurou até março deste ano. Neste tempo, o suposto namorado pedia dinheiro a Mislaine e cabia a Deisiele fazer a suposta entrega. “Foram esses empréstimos que geraram a dívida de R$ 6 mil”, enfatiza o delegado.

Porém, em março Mislaine descobriu a farsa. “Elas eram amigas e durante uma viagem Mislaine visualizou uma notificação da rede social do suposto namorado no aparelho celular de Deisiele, ela printou essa informação e continuou arrecadando provas, além de parar de fazer os empréstimos”, esclarece.

A certeza veio quando um segundo perfil falso passou a cobrar Mislaine em relação às dívidas de Luciano Leandro.  A cobrança coincidiu com a data em que Deisiele tinha a intenção de viajar para visitar o namorado em um presídio. “A conversa dizia que o suposto namorado tinha contraído uma dívida com a facção e precisava ser paga com urgência”, conta.

Suposto compromisso foi proposto quando a autora já sabia da farsa

No dia 1º de junho, Mislaine foi “batizada” como membro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ela apresentou as provas à facção criminosa, pediu a cobrança ao comando e cerca de 20 dias depois o crime foi praticado. A polícia já tem certeza que a suspeita estava no local do crime no momento da morte, até porque ela mesma confirmou, mas os detalhes da execução ainda não foram totalmente esclarecidos, já que ela usou seu direito de permanecer em silêncio.

A polícia tem informações de que a vítima foi ferida com sete perfurações no momento da execução. “Estamos aguardando a conclusão do laudo pericial de necropsia, mas em conversa  com o legista já sabemos que os golpes foram praticados com arma branca, provavelmente uma faca, sendo o mais contundente na região do pescoço, que pode ter causado um esgorjamento”, detalha Cleyson.

A morte aconteceu no dia 21 de junho, após três dias de “sumário”, nome dado pela facção para o julgamento.

Segunda autora

Elaine participou do sumário e abrigou Mislaine em Passos (foto: Redes Sociais)

Elaine Nascimento Coelho, de 28 anos, também está presa por conta deste crime. Ela seria membro da facção, moradora da cidade de Passos e teria participado do primeiro dia de julgamento. Essa semana ela também resolveu dar mais detalhes do caso. De acordo com a polícia, o depoimento dela foi esclarecedor e se alinha às investigações.

“Ela afirma ter participado apenas do primeiro dia do sumário e que até então não se falava em morte da vítima, mas sim de uma cobrança da dívida onde eles colocariam a vítima ‘no prazo’, ou seja, estabeleceria um prazo para que ela efetuasse o pagamento”, resume o delegado.

Sumário

Dentro desse julgamento do Tribunal do Crime, outras vítimas de Deisiele foram apresentadas e a decisão da execução tomada. Por isso, a polícia trabalha para identificar quem eram essas pessoas e a real participação delas no homicídio, em especial no momento da execução.

Há informações de que Deisiele não estava abalada, não chorou, e ao final disse que pagaria a dívida, mas não foi suficiente. Ela teria ainda se negado a cavar a própria sepultura.

Prisão

Mislaine e Elaine estão presas de forma temporária, por 30 dias. Ao final deste prazo, a Polícia Civil vai avaliar se pede a conversão para prisão preventiva. Mislaine deve ser indiciada por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Já Elaine ainda terá sua conduta melhor avaliada, mas deve responder também por favorecimento pessoal, pois colaborou na fuga de Mislaine, e por organização criminosa.