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Quando me acolho, reconecto com minhas ancestrais e evoluo.

Muitas de nós herdamos um fardo pesado como mulheres – nos ensinaram que a felicidade genuína só poderia nascer do amor romântico e que, sem ele, o sentimento de incompletude estaria sempre nos perseguindo – sempre correndo atrás de nós até que nos entregássemos às limitações de uma relação a meio termos, a metades.

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Em um certo momento comecei a perceber que em meus sonhos mais íntimos de relacionamento, o que mais me chamava era a força das sensações que aquelas imagens causavam… paixão, tesão, acolhimento, segurança, senso de pertencimento. Em um certo momento, me dei conta de que eu poderia simplesmente mudar a cara, o cheiro, o corpo, o jeito, daquele com quem sonhava… e o contexto permanecia o mesmo. Percebi que mais me importava a visão sobre mim mesma do que o sujeito.

Assim segui caminhando em sonhos juvenis, em amores efêmeros que se esvaiam a cada tropeço – eles só duravam até o tempo de serem irreais. Uma repetição infinita de padrões, até o dia do ponto final.

Desde este dia, passei a escrever uma história diferente. Me pertencer e conhecer o amor que eu poderia me ofertar.

Então tenho sido humilde a compreender as escolhas que fiz. Vou aprendendo a enxergar quem fui e sou. Desvendando os mistérios que me são revelados.

Ir vivendo até que se desvele. Acolhendo a vergonha, a culpa na não resolução, a raiva pelo sentimento de fracasso, o orgulho por não ter desistido de investigar mais profundo enquanto todos ao meu redor se nutrem de mentiras cotidianas e doses homeopáticas ou cavalares de ignorância, para evitarem sair da zona de conforto.

Estou farta dos velhos padrões morais e sociais que nos aprisionam nas amarras sombrias de um inconsciente coletivo que nada tem a ver com o nosso mais alto potencial.

Estou disposta a reinventar a mim mesma de uma nova forma, a criar novos modos de relacionar, de amar, de ser mulher.

Estou disposta a descobrir uma receita que seja quase infalível àqueles de intenção clara e bom coração – porque a cura de uma é a cura de todas.

Revejo minhas posturas e aceitações, revelando o amor que resgato diariamente em mim para que possa revelar ao outro, entregando ações e sentimentos reais, vivendo e colhendo aquilo que se manifesta no presente.

Enquanto isso, assisto a mim mesma me tornando quem sou, me apaixonando por minhas pequenas confusões, tropeços e grandes saltos; assim como é, assim como foi… assim como pode ser! Honrando a beleza e humanidade que emergem ao me assumir assim, em processo de tornar-me.

*Évila dos Anjos é nortista, cabocla da cidade de Belém do Pará. A(R)tivista na vida, pedagoga, atriz, professora de teatro, diretora teatral, palhaça, contadora de histórias, performer e membro fundadora da Cia Nós de Teatro. Desenvolve trabalhos de educação/teatro em projetos sociais, tendo experiências diversas no ramo. Alia a arte à militância, pois uma não caminha sem a outra. Com o tempo e as vivências, aprendeu que a arte é uma maneira de resistência e uma das bandeiras que carrega como forma de conscientização e cura para descobertas e convicções. Mora em Poços de Caldas há seis anos, mantendo as raízes de luta e força dentro dos espaços e da arte, caminhando e seguindo graças a toda ancestralidade que a rege.