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Das explicações máximas na ciência à falta de autonomia do ser

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Hoje quero continuar este meu conceito que mostra um pouco os problemas que surgem de uma sociedade que cada vez mais tenta explicar suas ações e reações, suas pulsões de morte, suas pulsões de vida. Ainda acredito que os únicos porquês que deveriam ser mais analisados e conhecidos estão dentro da política, onde o povo ficou décadas vagando num vazio, esperando os átomos colidirem para ver pra que lado iria. Mas esta é outra história, o que quero reafirmar está aqui: os porquês do mundo arrefecem as nossas vontades.

Peço desculpa aos cientistas e homens de universidades, mas o recorte demonstrado pela ciência não pode ser tomado como única realidade, como acontece. Agora a afirmação é mais drástica: a ciência é uma pseudo realidade. Afastar os deuses e suas cóleras, suas danações e outras punições, supõe trabalhar a laicização do pensamento: ver nos encadeamentos de causas e efeitos imanentes a razão do que acontece permite evitar muitos desprazeres. Deixar de ter medo do raio, do trovão, das tempestades, dos relâmpagos, dos terremotos, dos maremotos, exige uma redução científica e positiva desses acontecimentos: o saber contribui para isso, a ciência também.

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Estou fazendo duras críticas à ciência como uma ferramenta que explica o mundo e, com isso, arrefece a vontade de potência de agir com o corpo. Na história da própria ciência ela já serviu para justamente o contrário. Ao analisar a filosofia hedonista¹ dos séculos XV e XVI a importância da ciência para a filosofia materialista², a ciência já serviu de base teórica para justamente mostrar a importância do corpo, da matéria dentro da filosofia. Basta ter contato com o a obra O Homem- máquina de La Mettrie, que já no século XVIII é uma prova disso. Até o século XIX, muitos médicos, físicos e representantes de outras áreas do conhecimento tinham a intenção de utilizar a ciência para diminuir a importância no entendimento das ideias, da crença e principalmente da alma. Neste sentido uma frase de La Mettrie chama muita atenção: Aquele que quiser conhecer as propriedades da alma deve, pois, em primeiro lugar procurar aquelas que se manifestam claramente nos corpos de que a alma é o princípio ativo (LA METTRIE, 1982).Mas ao mesmo tempo em que este pensador utiliza a própria ciência médica da época para mostrar as diferenças entre os humanos, na relevância do corpo para o pensamento, pois só é possível pensar graças ao corpo, que funciona como a casa do próprio pensar, ele deixa claro que a essência da alma é tão desconhecida quanto a própria essência do corpo. Ou seja, que mesmo com toda a ciência até então apresentada que com toda esta que se apresentou posteriormente, a essência do que é um corpo, a vida, o homem, ainda permaneceriam desconhecidas. E tudo bem, a ciência se tornou uma pseudo realidade, à medida que foi atropelando a essência misteriosa.

O corpo que sente, mesmo que uma ideia seja projetada através de um sonho, de um pensamento distante, é o corpo que vai proporcionar boas ou más sensações. Agora, por que o homem busca o prazer? O prazer, o gozo por algo, funciona como uma explosão dentro do próprio corpo. É um momento único, onde o pensamento está voltado para o sentimento de tal gozo, nada mais importa. Há um esquecimento da consciência resultado de um intenso prazer. O gozo é violento, pois deixa de lado a razão mais sensata que o indivíduo já pensou em ter, onde o trabalho intelectual de nada serve. É como se o mais consciente e racional dos seres começasse a chorar do nada, chorar por simplesmente ter sentido algo. A filosofia hedonista vem justamente resgatar este eu que sente, mostrar que não é somente a tristeza ou o tédio que alcançam a todo instante o homem na linha de chegada. O homem não pode ser consumido pela tecnicidade (definição heideggeriana), seu corpo não pode ser atropelado pela rotina, pelo cansaço do dia a dia, senão haverá um esquecimento do próprio ser. O perigo está justamente neste esquecimento. Quando isso acontece pode-se esperar a primeira ou a segunda conclusão, o encarceramento ou a liberdade desmedida: no primeiro conceito, o ser fica restrito ao que é quotidiano, é engolido pela cadeia de utilidades, pelas normas, condutas, pelas regras do jogo, seguindo leis e agora tutorais das redes sociais, perdendo cada vez mais a autonomia de si mesmo; também pode acontecer a liberdade desmedida, de querer e viver tudo que não conseguiu, por anos travado dentro de condutas morais, uma libertação de si mesmo que pode ser também prejudicial, a máquina desejante quando não está mais sob o conceito da moral (não se preocupando mais com o que está fora) pode se torna numa máquina esquizofrênica, seguindo todos os impulsos que lhe convier.

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No entanto, o problema central é ainda a falta de autonomia. A ciência, com suas explicações, adormece o ser e mata a sua autonomia. É engraçado, para muitos estudiosos em educação autonomia deveria ser o resultado de uma boa educação. Paulo Freire aponta a educação com uma forma de libertação. No entanto, o que se vê é justamente o contrário, a educação se tornou mais uma forma de dominação ideológica de um sistema de poder que já colocou seus braços em todas as instituições existentes. A ideia neste artigo era de trabalhar o avanço de mundo explicado para um mundo submetido, e cada vez menos pertencente a uma autenticidade do indivíduo. No próximo, pretendo avançar no conceito da falta do ser autentico nesta sociedade. Espero que tenha conseguido avançar.

1 – Hedonismo vem da palavra grega Hedone, que significa prazer, e trabalha justamente a importância do ser de seguir o desejo pelo prazer, sem se importar com a mora que vem embutida, que sempre galopa junto com o homem neste mundo judaico-cristão.

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2 – O materialismo também é uma corrente filosófica que toma grande força na filosofia após o século XII, dando mais importância ao corpo, a matéria. Mostrando que sem o corpo não há pensamento, sem o corpo, portanto, não existe a razão colocada como fator determinante nas decisões do ser desde a era platônica.

*Thiago Quinteiro é jornalista e filósofo. 

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