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Poços de Caldas

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Embromadinhos

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Em primeiro lugar, peço desculpas pelo trocadilho. Mas acho que vem a calhar para definir a situação atual dos mineiros com relação aos rejeitos de minério em nosso cavoucado Estado das Minas e Lambanças Gerais, depois da tragédia acontecida em Brumadinho. Segundo o dicionário Aurélio, o significado do termo “embromar” é: calotear, tapear, marombar. Ou ainda: “Adiar com embustes a resolução de um negócio”.

E é exatamente isso que os garimpeiros e, posteriormente, as mineradoras, vêm fazendo desde que começou a exploração mineral por aqui, lá pelos idos de 1690. A história comprova que nos anos imediatamente posteriores desenvolveu-se uma frenética atividade minerária em nosso Estado, deixando-o todo revirado, com as entranhas expostas e mal acondicionadas.

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Sabemos que, com o tempo, essa atividade só aumentou. Passado o ciclo do ouro, a exploração de pedras preciosas continuou intensa. Posteriormente vieram o manganês e o minério de ferro, principalmente. Apesar de gerar empregos e divisas para os municípios que abrigam as minas, e também para o Estado e a União, vários problemas apareceram em função da atividade.

Os principais problemas são relacionados com a questão ambiental. Para o início da atividade, em qualquer área, é necessário que se promova o desmatamento total e a destruição das nascentes que existam ali. A atividade gera também várias formas de poluição do ambiente. A poluição sonora, com as inevitáveis explosões do minério; a poluição do ar, gerada pela poeira; a poluição dos cursos de água, com metais tóxicos contidos na lama resultante dos processos de extração, além de, em alguns casos, desencadear processos irreversíveis de erosão.

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A construção de barragens de rejeitos foi a forma encontrada para minimizar a poluição, “escondendo” a lama que, inevitavelmente, é produzida no processo. Sabe-se que existem alternativas à essa forma de mineração, eliminando a geração de rejeitos úmidos ou promovendo a sua total reutilização. Mas todas exigem investimentos, coisa evitada a todo custo pelas mineradoras que visam somente o lucro.

Como ficou evidente depois dos recentes desastres de Mariana e Brumadinho, além de várias outras que ameaçam desabar, as tais barragens não apresentam confiabilidade mínima. Elas existem por todo o Estado, principalmente no chamado Quadrilátero Ferrífero, na região central de Minas. E as catástrofes recentes deixam ainda mais evidente a total falta de controle dessas estruturas por parte das autoridades responsáveis.

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Na verdade, parece claro que há uma conivência entre as partes, levando a suspeitas de corrupção ou, no mínimo, descaso. Um fato que me deixou triste foi o pronunciamento do prefeito de Brumadinho, logo depois do desastre que vitimou seus concidadãos. Ele estava extremamente preocupado com o que iria acontecer com a possível paralisação da mineração no município.

O natural, para aquele momento, não seria a preocupação com as famílias atingidas? Isso traduz muito bem qual é principal preocupação dos políticos: a manutenção do seu feudo a qualquer custo.

É interessante observar que a principal justificativa para a mineração intensiva, ou seja, a geração de riqueza para o país, fica grandemente prejudicada. Apesar de passar por esse processo desde o final do século XVII, o Estado de Minas apresenta-se hoje como um dos vários Estados com a economia devastada ou totalmente falidos.

Se houve, realmente, a geração de riquezas para a coletividade nesses cerca de 330 anos de atividade minerária por aqui, de alguma forma inexplicável essa riqueza se desvaneceu no ar. O que sobrou foi esse imenso passivo ambiental que ora provoca o medo e a incerteza nos municípios que abrigam tais estruturas.

Esses fatos só vem comprovar o que nós sabemos de longo tempo: a exportação de matéria prima nunca foi um grande negócio. Nosso solo foi espoliado e suas entranhas exportadas. E o saldo de tantos anos é a repetição de desastres ambientais e a quebradeira geral do Estado e dos municípios, inclusive muitos dos que abrigam áreas mineradas. Difícil de entender, não é?

Mesmo depois dos devastadores desastres em Mariana e em Brumadinho, os mineiros continuam bem embromadinhos pelas autoridades competentes e pela mineradora criminosa. Depois das experiências anteriores, sabemos que vai continuar assim e, o pior, novas tragédias acontecerão.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação e Gestão Ambiental e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

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