Sintomas de que o tempo passa, invariavelmente a todos, vão se fazendo mais e mais latentes a cada momento. Tenho um parâmetro particular: caminhar pelo centro da cidade, caminhar mesmo! Houve um tempo nem tão distante assim que a contabilidade de cumprimentos ficava complicada pelo excesso. Hoje continua complicada… pela escassez. Fiz o trajeto Igreja Matriz-Terminal Urbano e contei os cumprimentos nos dedos de uma mão.
Não que os amigos e conhecidos tenham partido dessa para uma melhor, mas sim a impressionante rapidez com que as gerações vão se sobrepondo. Era absolutamente comum vermos alguém na rua e sabermos de cor e salteado os nomes dos pais, dos irmãos, dos amigos dos irmãos e, hoje, ficamos na dúvida se é morador da cidade ou turista. O olhar corre entre a pressa das pessoas, na tentativa de um reconhecimento visual e o que se consegue é quase sempre alguém se desviando de seu pasmacento caminhar.
Por tudo o que há de mais sagrado, esse não é um relato nostálgico/melancólico! Talvez uma constatação de que a vida, sabiamente, vai provocando as suas sobreposições. Ninguém é efervescente o tempo inteiro, ninguém é literalmente lambido o tempo inteiro. Coincidentemente, nesse meu trajeto em questão, cumprimentei uma pessoa que ocupou cargo de alto escalão na cidade em um passado bastante fresco ainda. A tal pessoa era disputada a tapas para um café e, no entanto, caminhava naquele momento com o mesmo grau de anonimato do sujeito que passou por mim oferecendo uma cartela de bingo.
Caminhar em sua cidade, nas ruas que te viram crescer, com a sensação de quem faz aquilo pela primeira vez, dado ao ineditismo das pessoas que seguem seus destinos, deixa a sensação de que sua terra vai se tornando apenas um dado em sua carteira de identidade.
*Pedro Bertozzi é radialista, apresentador de TV e músico