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Uma campanha lançada pela Associação Nacional das Livrarias (ANL) e veiculada pela internet, intitulada “#VemPraLivraria”, pretende incentivar a venda de mais livros por ocasião do Natal e ano novo. É uma tentativa de reação de livreiros, editores e escritores frente aos desastres anunciados recentemente no setor.

Embora seja de pouco interesse geral, estou voltando a um assunto que me é muito caro, ou seja, a produção e a comercialização de obras literárias no país. Uma crise severa vem se instalando no setor, reduzindo ainda mais os escassos pontos de venda de livros à disposição da pequena parcela da população que tem recursos para comprá-los.

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É de conhecimento geral que nós, os brasileiros, não somos grandes leitores. Metade da população é simplesmente considerada não leitora. Por conseguinte, segundo pesquisa divulgada recentemente, 30% do total de habitantes nunca comprou um livro. Natural, tendo em vista ainda o alto custo das publicações em relação ao salário mínimo.

Apesar disso, essa mesma pesquisa, desenvolvida em março de 2016 pelo Instituto Pró-livro e denominada “Retratos da Leitura no Brasil”, disponível em www.prolivro.org.br/, revelou que o brasileiro lê, em média, 2,43 livros por ano. Uma pequena melhora em relação a pesquisas anteriores. Um levantamento precedente, de 2014, falava em 1,7 livros ao ano.

Entretanto, nos últimos meses notícias desagradáveis turvaram ainda mais o horizonte da literatura. Duas das maiores redes de livrarias do país – Cultura e Saraiva – entraram com pedidos de recuperação judicial e uma outra rede, de origem francesa, a Fnac, encerrou definitivamente suas atividades por aqui.

As pequenas livrarias, cuja existência em grande quantidade seria o ideal, já estão encerrando suas atividades há muito mais tempo. Mais de seiscentas foram fechadas somente de 2014 pra cá, num movimento acelerado e contínuo que levará muitas outras ao mesmo destino. Portanto, o que já era ruim, ficou ainda pior.

Uma avaliação, divulgada por uma dessas redes que escancararam suas terríveis situações falimentares ao mercado, estima que houve um encolhimento de 40% nos negócios do setor, desde 2014. Isso representa uma queda bastante significativa, tornando muito difícil a vida dos livreiros.

E pelo panorama que se apresenta para o futuro, em consequência da crise generalizada, a queda será maior e mais acelerada. Por um motivo muito simples: o encolhimento do mercado vai reduzir as tiragens e, consequentemente, aumentar os preços já muito altos e inacessíveis para a maioria da população. Isso certamente restringirá ainda mais a comercialização e mais pontos de vendas fecharão suas portas.

No sentido contrário, crescem as vendas diretas e através de grandes distribuidoras pela internet. E crescem ainda mais as publicações dos chamados e-livros em sites especializados, eliminando várias e caras etapas na publicação de um tradicional livro de papel. Se, por um lado isso pode propiciar a publicação de novos autores, mais carentes de recursos, por outro lado, seremos privados do contato físico com o livro impresso.

Nós, os apaixonados pelo livro de papel, só temos a lamentar. Passear pelos corredores de uma livraria, sentindo o delicioso cheiro de livro novo, o cheiro do saber, sempre foi um grande programa pra nós. Para as novas gerações, contudo, essa simples atividade parece cada vez mais fadada ao esquecimento.

Há muito que se discute sem sucesso a remota possibilidade de algum tipo de subsídio oficial, por parte dos governos federal e estadual, para baixar o preço dos livros ao consumidor final. A isenção de impostos, que chegam a 15% do preço de capa ao longo do processo de comercialização, já seria um bom começo.

Mas, diante das providências iniciais, com esperadas restrições às leis de incentivo fiscal para a área, não creio que a cultura venha a ocupar lugar de destaque na preocupação dos futuros governantes do país. Assim, lamentavelmente, apesar dos esforços recentes, é impossível vislumbrar uma solução satisfatória para a crise dos livros.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação e Gestão Ambiental e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.