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Se hoje eu fosse embora para onde a Supremacia Divina determinasse, me atreveria a ranhetar junto ao Pai, por alguns valores terrenos. Uma mala pequena, de fivela simples, me bastaria. Daquelas que, facilmente, não seriam impedidas no compartimento das bagagens de mão.

Materialmente, dessa consistência perecível que tudo aqui tem, nada comporia o volume desse meu embornal etéreo, ah…mas dos valores mais lustrosos que em vida conheci, não ia abrir mão e dane-se o excesso de peso! Os amores poucos, carnais e de alma que tive, estariam no fundo da mala. Mesmo que se amarrotassem um pouco, bastaria uma boa sacudida sob um sol de verão quase azul de tanto o sol plagiar o azul do céu, e pronto! Seriam amores de novo, para sempre. Intactos e intensos como foram em vida.

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Ocupando o que sobrasse de espaço vago, as amizades que a vida plantou em mim, porque quando espontaneamente a vida planta, ela traz essas sementes dos canteiros mais bem cuidados do céu e enxerta em nossa alma. O que brota, é um tanto do que somos. Os meus amigos são em mim, um muito da bondade e do amor que eu nunca pedi. Eles entenderam, por bem,  me agraciar com suas sorridentes almas e naquelas pequenas bolsas internas,  com elásticos, que toda mala tem, justamente estariam esses sorrisos todos que aprendi na generosidade de cada um.

E antes de fechar, envolveria tudo isso com uma manta de gratidão. Viver precisa ser do tamanho da confiança que em cada um de nós foi depositada pelo Criador quando nos endereçou à vida e nos moldou com o corpo, nos deu as moradias, a família, os amores, as dores e os amigos que precisávamos ter. Não há essa retórica do merecíamos ter. Precisávamos(!)ter exatamente o que tivemos. Agradecer a tudo isso, é chegar ao novo destino, de joelhos, como devem ser os humildes diante à nobreza da existência, seja ela em que estágio for.

*Pedro Bertozzi é radialista, apresentador de TV e músico