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Com certeza você já ouviu alguém falando para uma mãe que amamenta: “SEU BEBÊ ESTÁ FAZENDO SEU PEITO DE CHUPETA”! Confesso que essa é uma das frases mais DESCABIDAS quando falamos sobre bebês e amamentação.

Como assim “fazendo o peito de chupeta”? As pessoas se esqueceram que a chupeta foi criada há poucos anos e justamente para “imitar o peito” (sem sucesso, né? Por que não há como imitar o peito, que além de nutrir, tem cheiro, calor e se molda à boquinha do bebê, etc.). Então, no mínimo a frase deveria ser invertida: “seu bebê está fazendo a chupeta de peito”!

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Desde a sua criação, a chupeta trouxe comodidade e acabou se tornando conveniente para os pais que precisam acalmar um bebê. A utilização desse objeto se difundiu amplamente nos últimos anos, tanto é que até mesmo as bonecas são vendidas com chupetas e mamadeiras, para as crianças “brincarem” com esses artigos, como se eles fossem essenciais, sendo que elas poderiam naturalmente, brincar de “amamentar”.

Como eu escrevi no meu último artigo, amamentar não é pornografia, e sim, um ato natural. E brincar de amamentar, ajuda na naturalização desse ato, que vem sendo condenado nos últimos anos, por pessoas que acreditam que amamentar em locais públicos seja inadequado e uma forma de “atendado ao pudor”.

A cultura da chupeta e da mamadeira cresceu tanto que foi necessário criar uma lei que protege mães e bebês que amamentam e mamam em locais públicos, aprovada em diversos estados e cidades, inclusive, em Poços de Caldas (lei 9074).

Mas, apesar dessas medidas que visam proteger a amamentação, infelizmente, as mães que amamentam costumam ouvir que “o bebê está fazendo o peito de chupeta”, não apenas por parentes e amigos, mas às vezes, até mesmo por profissionais da área da saúde.

ATENÇÃO: BEBÊS NÃO FAZEM O PEITO DE CHUPETA, mas sim o contrário!

Bebês nascem em plena fase oral e precisam SUGAR para conhecer o mundo e se desenvolver. Em alguns momentos, o bebê vai fazer o que chamamos de “sucção não nutritiva”, que é popularmente conhecida como “chupetar”.

Mas que raiva desse termo, viu?!

Bebês realizam sucção não nutritiva desde que o mundo é mundo! Quantos anos mesmo tem a chupeta?!

Comparar a complexidade da amamentação com o ato simplório que o bebê faz ao chupar uma chupeta, é no mínimo, injusto.

Mamar é um ato complexo, que envolve não apenas extrair o leite materno para saciar a fome e a sede do bebê, mas também estar em contato direto com a mãe, sentir seu cheiro, seu corpo e sensações orgânicas. Como comparar a chupeta com o peito, se esse artigo de borracha não lhe proporciona toda essa riqueza de estímulos e sensações?

Já repararam que a maioria dos bebês recém-nascidos rejeita a chupeta quando tentam colocá-la em sua boca e eles só passam a aceitá-la depois de muita insistência dos adultos? Pois é, ela não é natural para eles e os movimentos de sucção feitos com ela são totalmente diferentes dos movimentos que os bebês fazem quando mamam no peito. Quando um bebê chupa a chupeta ele queria estar, na verdade, sugando o peito da mãe, ato programado pela natureza. Então, o bebê é levado a fazer a chupeta de peito.

Na barriga da mãe, o bebê era alimentado constantemente e depois que o bebê nasce, ele pode, não apenas mamar por fome, como também por querer ficar em contato com a mãe e para se sentir seguro. Mamar ajuda a regular emoções, regular o sistema nervoso e até contribui para o desenvolvimento da mandíbula e do maxilar.

Além disso, a sucção não nutritiva, ajuda a estimular e regular a produção de leite (fica a dica para as mães que estão com baixa produção de leite…)

Alguns dizem que seus bebês mamam demais e mesmo depois de “satisfeitos”, continuam no peito, “chupetando”, mesmo que “o leite tenha acabado”. Mas é importante que todos saibam, que em algumas fases, os bebês podem sentir mais necessidade de sugar, como os momentos em que passam pelos SALTOS DE DESENVOLVIMENTO e PICOS DE CRESCIMENTO.

Durante os saltos e picos, que são momentos em que o cérebro do bebê está fazendo novas conexões para que eles adquiram novas habilidade (pegar um objeto, rolar, sentar, engatinhar, etc….), os bebês sentem mais necessidade de mamar, pois precisam de mais nutrientes. Além disso, a aquisição de novas habilidades os deixa ansiosos e agitados e por isso, eles recorrem ao conforto do peito da mãe, que é onde se sentem mais seguros. Esses saltos e picos acontecem em todos os meses durante o primeiro ano de vida, às vezes mais de uma vez em um mês. E continuam acontecendo no segundo ano de vida, em menor quantidade.

Outra questão importante, é a expectativa que a mãe tem quando o bebê nasce. A cultura da mamadeira, nos “iludiu” com a ideia de que o bebê mama e depois de satisfeito, dorme ou dá um grande intervalo até sentir fome novamente. Quando um bebê toma leite artificial, isso pode acontecer, pois o “complemento” não é facilmente digerido pelo bebê, como o leite materno. Quando um bebê toma leite artificial, seu estômago precisa digerir esse leite e o corpo precisa trabalhar tanto, que o bebê se sente sonolento. Exatamente como acontece quando comemos um prato de feijoada.

Já o leite materno, é facilmente digerido, como se tivéssemos comido uma “saladinha”. Então, o bebê que é amamentado, geralmente recorre ao peito com mais frequência, pois o leite é digerido mais rapidamente.

Para quem possa pensar em dar leite artificial, para conseguir um intervalo maior entre as “mamadas”, vale lembrar que o leite artificial não possui os mesmos nutrientes que o leite materno e os benefícios do aleitamento para a saúde do bebê são incomparáveis. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade (sem água, chás, sucos, etc) e continuado, após a introdução dos alimentos sólidos, até os dois anos ou mais.

Por fim, é importante saber que a chupeta é considerada uma das grandes inimigas do processo de aleitamento, pois frequentemente promove a “confusão de bicos” em bebês que têm contato com esse objeto, o que pode acarretar  queda no ganho de peso do bebê e/ou queda na produção de leite (ambos os problemas podem acontecer pois bebês que chupam chupeta, não estão mamando em livre demanda) e o desmame precoce, justamente devido aos movimentos diferentes que são realizados quando o bebê chupa chupeta em comparação com os movimentos que ele realiza para sugar o peito. O problema é tão corriqueiro, que as próprias embalagens das chupetas, atualmente, contém um alerta para os riscos do uso do objeto em relação à amamentação.

Encerro explicando que este artigo não serve para julgar mães que queiram dar chupeta para seus filhos. A escolha de utilizar ou não chupeta, cabe a cada família. Mas…vamos devolver o mérito do peito para ele? Nada mais justo, né?

*Bia Câmara é atriz, relações públicas, criadora do canal Minha Opinião Materna, uma das coordenadoras do Círculo Materno, diretora da Cia. BrinCanto, professora e diretora do curso de teatro musical da Vivace e mãe do Bento e do Antônio.