Publicidade

Enquanto voltava de uma ótima viagem de merecido descanso, após um proveitoso feriado prolongado, não pude evitar de ter pensamentos e sentimentos de resignação, quase involuntários, que me invadiam sem pedir licença. Dali a poucas horas eu estaria novamente imerso na mesma rotina, no mesmo sufoco, no mesmo cansaço do dia-a-dia. Eu estava com “depressão pós-viagem”.  

É claro que tal diagnóstico não existe. Nenhum médico vai te passar um tratamento medicamentoso para tratar os sintomas da pós-viagem. Ninguém vai te dar um dia de atestado só porque você voltou pra casa. Mas isso não significa que a angústia não exista. Na verdade, esse jargão “depressão pós-viagem” é coloquialmente utilizado para expressar um sentimento muito comum que nos acomete, até mesmo natural. Quando experimentamos picos de euforia por determinados períodos de tempo, e muito natural que, ao retornarmos ao dia-a-dia rotineiro, tenhamos uma queda no estado de ânimo. É quase que como uma condição auto-regulatória, pois é impossível manter altos níveis de euforia por muito tempo. É como se a nossa mente precisasse descansar deste estado exaltado de ânimo. Pasmem: Prazer em excesso também faz mal.
Paradoxalmente, uma sensação boa também me invadia. Não sei nomeá-la, mas me trazia conforto. Nessas ocasiões, tudo tem seu tempo: o tempo do anseio pela viagem vindoura, o tempo do proveito e do prazer, o tempo do descanso, o tempo da volta.
Ora, do anseio, fiz o que pude. A contagem regressiva, os planejamentos, a logística, tudo que faz parte do jogo ritualístico de uma boa viagem. Dos prazeres, enquanto ali, estes fluem naturalmente. Do proveito, não há muito a declarar. Tudo o que eu trouxe de volta está salpicado de sal e areia, incluindo a pele avermelhada de quem tomou bons banhos de sol. Do descanso necessário, extraí todo o sabor. Agora, chegou a hora de voltar. Ela sempre chega, faz parte. De fato, apenas há o prazer de viajar quando há o desprazer do retorno. Do contrário, a viagem seria apenas mais um elemento da rotina. É a volta que faz a ida ser tão excitante. 

Publicidade

De qualquer forma, é bom estar em casa. Que venha a próxima! 

*Anderson Loro é psicólogo e músico. Como psicólogo, atua em clínica particular, e no serviço público pela Prefeitura de Poços de Caldas, com pessoas em situação de rua e com grupos de homens denunciados por meio da Lei Maria da Penha. Como músico, atua em diversos grupos, dentre eles a Banda Capitão Vinil.