Seria extremamente propício, fácil, me pautar nesses momentos do assunto mais pulverizado dos últimos dias: eleições. Mas acabei me lembrando da recomendação gentil, prévia, que procurássemos não abordar política nessas mal traçadas linhas, ainda que os dedos cocem para tal. Ok. Sem política, mas, escolhas, sim!
Dias atrás lembrei, comemorei o fato de ter sido escolhido pela vida para continuar por aqui. Um ano se passou de um susto que poucos concebem para si. Eu, sinceramente, nunca me imaginei, em uma manhã, cheia de sol, de calor de início de primavera, com várias pendências necessitando de resolução até ao meio-dia, infartar. Assim, traiçoeiramente assim. O nosso lado hollywoodiano supõe que esses momentos – se acontecerem – que aconteçam em um dia cinza, arrastado, carrancudo e, no entanto, foi em um dia lindo, que ironicamente celebrava a vida. A vida vai se celebrando todo dia, mesmo nos dias de nossos infartos, acreditem!
Quando essa nossa pseudoblindagem se esfarela e percebemos que de super-herói temos apenas a vontade de sê-lo, a bondade que mora no céu resolve gozar férias em nosso peito. Entre exames e procedimentos de urgência e recomendações e medos absurdos e remédios e barulhos típicos de c.t.i. , o que adota o nosso olhar combalido é a entranha de um amor que apenas supúnhamos conhecer. As primaveras que esse amor invasivamente traz consigo é que nos animam a continuar brotando.
Fui eleito! Esse voto de confiança me deu um mandato de duração incerta. Quem quer que tenha sido, não anulou seu voto e muito menos se absteve de mim. Hoje, me percebo mais aprendiz do que nunca e entendo que esse é o grande mistério maravilhoso dessa nossa estada aqui: estarmos sempre surpreendidos pelo amor. Por mais que as adversidades e percalços nos rondem, o entendimento de que não estamos aqui apenas para compor a cena funciona como o alarme diário vociferando em nossos ouvidos que o grande privilégio da vida é ela própria. Segue a festa!
*Pedro Bertozzi é radialista, apresentador de TV e músico
