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Recentemente tivemos um breve hiato na publicação das colunas aqui no jornal. E antes dessa interrupção, eu havia me proposto a mudar o foco das minhas elucubrações. Obedecendo a um desejo meu de afastar-me um pouco da realidade indistinta e insalubre, passaria a publicar somente textos com uma pegada mais literária, ou seja, crônicas e mini contos.

Mas a proximidade das eleições me deixa com o cérebro coçando, excitado e assanhadinho pra falar de política e comportamento, assuntos que caminham lado a lado, ficando em plena evidência nessas ocasiões. Muitas coisas negativas despertam nessas vésperas sufragistas. Acontece até de sucumbirem grandes amizades em razão das enormes divergências políticas que surgem inadvertidamente.

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Inevitavelmente, e trazendo sempre junto suas nuances positivas e negativas, elas estão chegando. Antigamente, bem antigamente mesmo, esses últimos dias antes das eleições me deixavam em grande expectativa, acreditando que pudesse acontecer algum tipo de mudança significativa. Com o tempo fui aprendendo que, na verdade, nada muda. Melhor dizendo, mudam os atores, mas a tragédia continua a mesma.

Entretanto, como estamos adentrando a primavera ocorreu-me de usar uma velha e batida analogia para comentar esse momento especial pelo qual transitamos. Sem, é claro, nenhuma pretensão de ser original ou profético.

Vamos lá!

Quando, no outono, devoramos gostosamente uma fruta quase nunca lembramos que o seu formato, o seu gosto característico e a sua doçura começaram a se formar na primavera, a estação das flores. A fase final da vida desses frutos, em sua maioria, geralmente ocorre no outono do hemisfério sul. É quando eles atingem a maturação, são consumidos ou caem ao chão, voltando a fazer parte do adubo natural que realimentará a planta mãe.

Mas, é claro, se não tivessem passado pela fase de floração, na primavera, eles nunca teriam chegado a ser saboreados e admirados pelos consumidores humanos, pelos pássaros, por outros animais, por insetos e pelos micro-organismos presentes no solo. Assim, a primavera cabe muito bem para exemplificar o reinício, o recomeço, a repartida, a reforma do ambiente.

Com isso, estamos vivendo uma oportunidade ímpar para pensarmos nessa renovação. O período eleitoral também é época de recomeço, onde o cidadão tem a chance de realizar mudanças com o seu voto. É a oportunidade ideal para que o próximo outono – ou os próximos outonos – seja diferente, com um gosto de novidade, com novos sabores e novas caras. A grande diferença é que a natureza se renova a cada ano, enquanto que as eleições só nos permitem reconstruir nossos rumos a cada quatro anos.

Na primavera, estação tão exuberante e bela, a chuva, que sempre rareia no inverno, começa a retornar, favorecendo a germinação das sementes plantadas pelo homem ou aquelas que tenham caído ao chão naturalmente, depois dos frutos apodrecidos.

A natureza, com toda sua complexidade e em seu eterno ciclo de acontecimentos, nos oferece os exemplos. Da mesma forma que acontece no ambiente natural, tudo que plantarmos nas próximas eleições vicejarão pelos quatro anos vindouros, sem possibilidades de mudanças bruscas. Daí a necessidade de pesarmos muito bem as decisões de agora.

Nossas atitudes de hoje irão, inevitavelmente, refletir no futuro imediato e remoto. Afinal, quando as coisas dão errado, quatro anos são muito tempo. Mas nem sempre as pessoas se dão conta disso. O voto de protesto, sinônimo de atitude inconsequente e imediatismo exacerbado, nada mais é do que sinônimo de total falta de propósito.

Quer saber, acho que a situação do país é muito nebulosa e confusa. Exatamente como meus pensamentos… Eu, particularmente, já nem sei o que pensar sobre o futuro. Por acaso você sabe, caro leitor?

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação e Gestão Ambiental e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.