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O Brasil dos meus sonhos é só um sonho

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A principal rede de TV do país está com uma campanha no ar para que as pessoas gravem um vídeo falando sobre o Brasil que querem para o futuro. Tendo em vista que a tal emissora detém o custo mais caro do minuto de propaganda da televisão brasileira, é um fato considerável que ela doe quinze segundos desse tempo para que uma pessoa fale de seus desejos para o amanhã, em cada um dos 5.570 municípios brasileiros.

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Embora sinta um comichão de vontade, não vou enviar um vídeo com as minhas ambições. Por várias razões. A primeira delas é que sou feio. O meu vídeo seria descartado imediatamente. A segunda razão é porque acho quinze segundos muito pouco tempo para desfiar tantas mazelas e absurdices quanto eu gostaria. Testa aí pra você ver. Só pra falar o nome e a cidade já vão uns seis ou sete segundos. Falar o que no restante do tempo?

A terceira razão, a mais determinante, é que não tenho nada de bom pra falar dessa possessão dominada por bandidos chamada Brasil. Hoje sou um legítimo representante dos cidadãos pessimistas que não conseguem vislumbrar nada de bom no futuro desse nosso país. Aliás, creio que se alguém consegue fazer isso, ver algo de bom na atualidade e nos anos vindouros, deve ser metodicamente estudado nas melhores universidades brasileiras. Certamente tem algo de estranho nessa pessoa.

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Confesso que um dia, lá pelos tenros anos da minha juventude, eu sonhei com um Brasil diferente após o fim da ditadura. Pelas perspectivas oferecidas durante aqueles anos tenebrosos, sei também que esse pensamento não tinha nenhuma razão de ser. Mas eram outros tempos e as mentiras dos políticos não eram tão evidentes e fartamente comprovadas como nos dias de hoje, copiosamente disseminadas pela imprensa e pelas redes sociais. Também creio que ainda não havia tanta contaminação pela bandidagem.

Admito que já sonhei com um governo progressista, realmente compromissado com o povo; sonhei com um sistema de saúde socializado, isento de manipulação política e disponível para todos; imaginei uma educação pública exemplar, democrática e universal, capaz de contribuir para nivelar socialmente os vários estratos da população; sonhei com pessoas realmente gabaritadas ocupando cargos públicos; delirei imaginando políticos lutando verdadeiramente pelos interesses do povo; imaginei a corrupção somente como uma lembrança ruim do passado. Que ingenuidade, hein?

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Meus sonhos viraram pesadelos. A criminalidade se alastrou assustadoramente, ocupando todos os espaços da coletividade. As falcatruas recalcitrantes, de todos os tipos e intensidades, ocuparam as várias camadas da sociedade, atingindo também os três poderes da república. Cujas grafias, por sinal, não mais merecem a distinção de serem iniciadas com letras maiúsculas. Parodiando Caetano Veloso, são podres poderes.

Sobra pouco ou quase nada para sonhar ou desejar para o futuro. A única forma democrática de mudar tudo isso e voltar a ter esperanças seria através do voto. Mas é exatamente ele que tem contribuído para piorar a situação a cada eleição realizada. Aliás, há muito tempo que as eleições deixaram de ser democráticas. Afinal, elas são definidas pelo poder econômico. Por isso, não há nenhuma chance de haver paridade nas oportunidades oferecidas aos candidatos. Em consequência, as bancadas auto financiadas e representadas no ministério do atual – da bíblia, da bala, da indústria, dos ruralistas – vão só aumentando.

Assim, acho difícil almejar algo de bom para o futuro do cidadão comum. Diante dessa situação, e frente a tanta negatividade da atualidade, medos antigos voltam a ameaçar nossas mentes. Eu, por exemplo, veja que coisa mais disparatada, ando com muito medo de começar a sonhar positivamente com o passado, quando desejei intensamente ir embora desse país.

Só resta um apelo desesperado ao nosso bom Deus:

– Protegei-me dos pensamentos absurdos e impossíveis!

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

 

 

 

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