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É uma vergonha!

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Em agosto de 2016, na capital federal, durante o Seminário Internacional sobre Políticas Públicas do Livro e Regulação de Preços, o ministro da Cultura da época, Juca Ferreira, declarou que o índice de livros lidos per capita no país, de 1,7 por ano, é uma vergonha. Mais de um ano depois do evento realizado em Brasília, e com outro titular no Ministério da Cultura, tenho certeza que esse percentual continua o mesmo e nada foi feito para alterá-lo positivamente.

O ocupante do Ministério no ano passado, embora tenha se mostrado indignado com esses números, nada fez para modificá-lo, assim como todos os seus antecessores e sucessores. No Brasil, o livro é um luxo. Caro e raro. E este é o principal motivo para que se perpetue essa “vergonha” comentada pelo antigo Ministro da Cultura.

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O custo de cada exemplar de um “best seller” no mercado brasileiro chega a mais de cinquenta reais. Esse valor representa mais de 5% do salário mínimo do país. Um custo proibitivo para a maioria da população brasileira. Mas este não é o único problema para os baixos níveis de leitura no Brasil.

Outro grande problema é a falta de bibliotecas públicas e a precariedade delas, quando existentes. Uma pesquisa de 2015, realizada pelo Portal Qedu da Fundação Lemann, demonstrou que somente 53% das escolas públicas possuem bibliotecas próprias, fato também bastante significativo. Se não há livros para ler, não há como fazê-lo. Mesmo quando possuem bibliotecas, a maior parte das escolas não mantêm um programa permanente de incentivo à leitura para seus alunos.

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Também bastante expressivo é o fato de que falta estímulo em casa. E ninguém tem dúvida de que os leitores são formados na infância, por influência dos pais. Por isso, no dia 18 de julho último fui surpreendido por uma notícia divulgada em todos os jornais do país. Um garoto da cidade de Itápolis, interior de São Paulo, foi flagrado com vários livros em casa, todos roubados.

A história começou quando a biblioteca municipal da cidade descobriu que várias obras de seu acervo haviam desaparecido. A instalação de câmeras de vídeo no recinto resolveu o enigma. Um jovem da cidade tomava obras emprestadas e levava algumas outras na mochila, de forma irregular. Conduzido a uma delegacia ele confessou que estava furtando os livros. E fazia isso nas quatro bibliotecas públicas da municipalidade.

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Ao inspecionar a casa do adolescente, a polícia descobriu 384 livros, todos roubados, dos mais variados temas. Segundo relatos dos policiais, os exemplares estavam bem organizados e bem cuidados, revelando o amor do garoto pela literatura. Ele também revelou que havia lido todos, de assuntos variados. A família, muito simples, não estranhou o fato porque o jovem dizia que os livros eram ganhados.

Gostar tanto de livros, a ponto de roubá-los para tê-los junto de si, é algo inusitado, nunca visto por mim, a não ser na literatura. O exemplo que me lembro é a obra “A menina que roubava livros”, do australiano Markus Zusak, ambientado nos anos de 1939 a 1943, durante a segunda guerra mundial, e transformado em grande sucesso cinematográfico.

Voltando ao nosso caso, está claro que o acesso à leitura no Brasil ainda é um fato excepcional. No episódio vivido por esse jovem do interior de São Paulo, apesar de algo extraordinário, o fato teve um final feliz. Muitas pessoas da cidade resolveram doar a ele os livros guardados em casa, ajudando-o a iniciar um acervo próprio e regular.

Uma atitude extrema dessas, furtar livros, nos leva a refletir sobre a atividade de ler. Creio que cada pessoa tem suas justificativas. Na maior parte dos casos, a maioria das pessoas prefere gastar o tempo ocioso com atividades virtuais, se é que podemos chamar assim. Seria a navegação pela internet, nas redes sociais, e a utilização de jogos eletrônicos. No computador ou no celular. Diante de tantas opções existentes hoje em dia para os jovens, é difícil despertar neles o desejo de ler.

Eu, que não sou jovem e pouco afeito às atividades virtuais, gosto muito de ler. Já cheguei a ler quase cem livros durante um ano. E, no meu caso, este desejo de ler é a junção de vários fatores. Primeiro, sou muito ansioso e a leitura tem o dom de acalmar-me. Segundo, sou viciado em leitura, porque leio muito desde criança. Terceiro, sempre tive uma grande curiosidade sobre as coisas de uma maneira geral e, de forma especial, sobre o pensamento humano. Quarto, detesto jogos de qualquer tipo e prefiro a leitura como passatempo.

Mas não é assim com a maior parte das pessoas. A grande maioria está incluída naquele índice de 1,7 livros lidos por ano, considerado uma vergonha pelo Ministro da Cultura do governo anterior. E, apesar de muitas sugestões, infelizmente não vejo soluções instantâneas para melhorar este índice.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

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