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O Jornal do Poste e a Internet

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Não sei quantos anos tinha. Dez, doze? Não sei! Era por aí. Corria o início dos anos setenta. Minha mãe matriculou-me em um curso de datilografia e me presenteou com uma máquina de escrever Remington “profissional”. Isto quer dizer que era uma máquina grande e pesada, usada em escritórios.

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A partir daí passei a datilografar todos os meus trabalhos escolares, numa “metideza” sem par. Isso, obviamente, causava inveja nos colegas que não tinham esse luxo. Com o tempo, passei também a datilografar trabalhos alheios. Isso era bom para treinar a datilografia e, principalmente, agradar os colegas da escola.

Mas, quais outras aplicações para aquele trambolho azul, que media uns quarenta centímetros de altura por meio metro de largura, pesando uns trinta quilos e com um imenso “carro” (rolo deslizante que recebe o papel), capaz de acomodar até uma folha no formato A2 (420mmX594mm)?

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– Nenhuma!

Por outro lado, o curso de datilografia eu aproveito até hoje, aqui no teclado do velho e perrengue computador que já tem uns dez anos de vida, ou seja, já é um “clássico” que, nessas alturas, guarda uma certa semelhança com a velha Remington. Inclusive nos defeitos comuns a essas maravilhas surgidas, na forma que as conhecemos, lá pelos anos 1870.

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Por exemplo, algumas “letras” do teclado do computador não funcionam; outras funcionam sozinhas, disparando inesperadamente e me obrigando a usar o “freio” (tecla Back Space). Isso me força a um certo malabarismo para escrever meus textos aqui, no teclado defeituoso, coisa que faço regularmente quando estou em casa.

Pois é, naqueles saudosos — embora terríveis — anos setenta, no auge da ditadura militar e do milagre econômico brasileiro, eu, com uns dez ou doze anos de idade, procurava ansiosamente o que fazer com uma máquina de escrever Remington tão pesada quanto meus pecados, além, é claro, dos já citados trabalhos escolares. Que não eram muitos naqueles tempos.

Ainda sem ter pleno conhecimento da minha paixão por informação, achava que aquele “monstro” mecânico, cheirando (ou fedendo) a graxa e óleo lubrificante, hoje tão extinto quanto os dinossauros, devia ter algum tipo de aproveitamento que não fosse só o de datilografar as tarefas da escola.

Aí, um dia, li em algum lugar que alguém, em uma pequena cidade do imenso e variegado interior brasileiro, produzia um jornal local, “catilografado” (usando um ou dois dedos para escrever ou “catar milho”), e o pregava no poste que existia em frente da sua casa.

– Pronto, achei!

No mesmo dia solicitei à minha mãe, que era mais doida do que eu, (vide o caso da compra da máquina de escrever para escritório, sem ter um escritório) uma verba para a compra de papel para confeccionar o jornal. Ela forneceu o dinheiro e assim surgiu meu jornal do poste, “mãetrocinado” pela minha genitora. Nos dias secos ele ficava por lá, grudadinho com “grude” de mandioca, quase uma semana. Isso quando as crianças não o arrancavam. Em dias chuvosos, tinha que ser reeditado a cada chuvisco.

Não consigo me lembrar das notícias que publiquei. Certamente eram trivialidades acontecidas na cidade e na região, as quais eu ouvia na Rádio AM de uma cidade vizinha. Ou, como eu era doido por música, bobagens musicais que eu copiava de revistas especializadas, compradas nas bancas de outra cidade vizinha.

Tinha também uma seção de piadas. Acho que esta era a única lida pelas raras pessoas que, vez por outra, notavam o meu jornal grudado no poste. Que durou pouco. Logo percebi que quase ninguém se interessava por ele. A decepção levou à rápida desistência da experiência.

Anos depois, já na faculdade e como membro do Diretório Acadêmico durante quatro anos, “editei” um jornalzinho gozador e provocador que fez muito sucesso. Tanto sucesso que quase provocou a expulsão do presidente do Diretório – o Arnaldo – por causa de uma matéria publicada com a assinatura dele, mas que era, assim como todos os outros textos, de minha autoria.

No começo o periódico era datilografado na velha Remington, com algumas charges também feitas por mim, e, literalmente, “rodado” no mimeógrafo, outro equipamento “revolucionário” e praticamente extinto. Posteriormente o jornaleco passou a ser reproduzido em uma copiadora, com qualidade bem melhor, mas ainda datilografado.

Enfim, desde a tenra molequice que eu tenho paixão por comunicação e informação. Mas, nesses anos todos – e olha que são muitos! – eu nunca sequer sonhei com a forma que a comunicação viria a assumir nos dias de hoje, tão rápida, tão instantânea e, ao mesmo tempo, tão eficiente e democrática! Embora se mostre, por vezes, volátil e até irresponsável, a contundência é inquestionável.

Suas fronteiras se expandem com uma velocidade alucinante, na medida em que os telefones celulares se popularizam mais e mais. Grande parte deles é usada para que os proprietários se informem continuamente sobre seus assuntos preferidos. A notícia diretamente do produtor para o consumidor, como os produtos da feira livre, uma coisa tão antiga e também eficiente.

Embora eu ache impossível, para mim, acompanhar com precisão tamanha evolução, eu me considero um privilegiado que a testemunhou integralmente, nos últimos anos. Sei que estou a léguas de distância da desenvoltura das crianças com um “smartphone” nas mãos. E nunca vou alcançá-los.

Mas o que realmente interessa é a democratização da informação nos dias atuais, fato que me deixa muito contente. Uma antiga aspiração minha, como ficou demonstrado no início deste texto, apesar de que, sabemos muito bem disso, poucas pessoas fazem bom uso dessa profusão de informação.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

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