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Poços de Caldas

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Doces venenos

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Nem sempre eu consigo gravar a fonte de notícias e comentários que ouço ou leio na imprensa. Dias atrás eu vi, ou ouvi, em algum lugar, que as principais fábricas de cigarros do país estão solicitando ao Ministério da Saúde a retirada das fotografias altamente sugestivas que aparecem nos maços de cigarros, denunciando os efeitos nocivos do hábito de fumar.

Já pesquisei as minhas fontes costumeiras, todos os grandes jornais e revistas disponíveis na internet, e não consegui identificar onde foi que vi a notícia. Mas tenho certeza que a vi, tanto que, naquele momento, comentei com a minha esposa sobre a ousadia desses fabricantes, que pretendem reverter uma ação tão bem sucedida, da mesma forma que aconteceu com a total exclusão da propaganda desses produtos dos meios de comunicação. Por sinal, uma das poucas ações efetivas que eu conheço na defesa da saúde dos consumidores.

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Eu mesmo posso declarar com toda certeza que fui influenciado por essas fotos assustadoras. Cerca de quinze anos atrás eu era fumante. Não um fumante qualquer, mas um consumidor de pelo menos três maços de cigarros por dia. Às vezes quatro, quando era acometido de minhas costumeiras insônias. E as imagens impressas nos maços de cigarro me faziam pensar no futuro. Isto porque eu era um fumante consciente dos males do cigarro, o que me fazia um usuário ainda mais relapso.

Também tivemos, a partir de 2014, restrições a propagandas de bebidas como os vinhos, com teor alcoólico igual ou maior que 0,5 grau Gay Lussac, no horário nobre da televisão. Fato que certamente irá contribuir para a diminuição do seu consumo, principalmente entre os jovens, na medida em que atinge um contingente menor dessa fração da sociedade que é altamente influenciável. Sabemos também que a propaganda de bebidas destiladas, com grau alcoólico maior, já sofre restrições há muito mais tempo.

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Ao contrário desse retrocesso descabido, ou seja, a retirada das fotografias de pessoas doentes nos maços de cigarros, o que precisamos são outras ações desse tipo. Por exemplo, sabemos que o consumo exagerado de açúcar é extremamente prejudicial para a saúde, ainda mais se utilizado sem reservas desde a infância. Mas os produtos açucarados são dos mais presentes nas gôndolas dos supermercados. Entre doces propriamente ditos, biscoitos e bolachas as mais variadas, que ocupam corredores inteiros. Quase todos os supermercados têm ainda a padaria com seus doces e bolos confeitados. Na TV, com seu grande poder de influência sobre a criançada, a propaganda é livre e acachapante.

Além desse massacre de exposição, as guloseimas desfrutam de lugares de destaque naquela pequena prateleira, chamada de “dispenser” ou dispensador, que fica junto aos caixas e com os produtos expostos na altura dos olhos das crianças que passam por ali. Com destaque, é óbvio, para os chocolates. O próprio nome diz tudo, é um equipamento para empurrar o produto goela abaixo dos clientes desavisados, principalmente as crianças, que são atraídas pelo visual e não pela necessidade.

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A obesidade infantil já é uma triste realidade entre nós. Uma pesquisa do Ministério da Saúde, divulgada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada três crianças de cinco a nove anos, ou seja, 33%, está acima do peso preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as meninas, 11,8% estão obesas. Com os meninos, este índice chega a 16,6%.

Sem contar, é claro, o grande contingente de adolescentes e adultos obesos, que continuam a consumir açúcar em demasia pela vida toda, por força do vício adquirido durante a infância. Na maior parte dos casos, induzidos pelos próprios familiares, consciente ou inconscientemente. Some-se a isso a grande tradição de consumo de doces caseiros entre os brasileiros, em especial dentre os mineiros, com suas delícias viciantes.

Nos supermercados é imensa a quantidade de produtos que contém grandes teores de açúcar, além de sódio em excesso, conservantes, corantes e muitas outras substâncias que não conhecemos. E a cada dia surgem mais dessas invenções altamente atraentes para as crianças. E esses artigos, comidas e bebidas, já assumem o status de drogas viciantes, exatamente como muitos outros produtos definidos como tais (anfetaminas, álcool, maconha, cocaína). A diferença é que o consumo dos açucares é livre e altamente estimulado.

Em função disso, acredito que se façam necessárias – e urgentes – ações de esclarecimento sobre os males do consumo exagerado de açúcar. Ações simples, exatamente como aquelas estampadas nos maços de cigarros. Da mesma forma que o tabaco, o açúcar também pode levar a amputações, no caso das complicações do diabetes; e pode induzir a doenças do coração, em decorrência da obesidade.

Não seriam os motivos citados mais do que suficientes para uma ação eficaz contra o consumo excessivo de açúcar? Creio que sim, pois as doenças coronarianas e o diabetes são responsáveis pela imobilização de grande parte da força produtiva do país. Quem sabe se, a exemplo da data denominada “Dia Mundial sem Tabaco”, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e celebrada no dia 31 de Maio, pudéssemos ter também o “Dia Mundial sem Açúcar”.

É importante lembrar que no Brasil, de acordo com levantamentos de 2015, 10,8 % da população se declara fumante. Em 2006 esse percentual era de 15,6%. Uma queda de 30,7% nos nove anos cobertos pela pesquisa. Os fumantes brasileiros já chegaram a 30% da população, índice bastante considerável que, felizmente vem caindo continuamente.

Calcula-se que, além de maior conscientização, o preço do produto também influenciou na queda do consumo. Sabe-se que o segmento tem uma alta incidência de impostos, o que eleva bastante o preço. Por conseguinte, creio que todas essas medidas, que conseguiram baixar sobremaneira o consumo de cigarros, poderiam ser adotadas no combate ao consumo exagerado de açúcar, principalmente entre as crianças.

Um sonho, eu sei, bem distante da realidade.

*José Nário é escritor, engenheiro florestal, especialista em Informática na Educação, Gestão Ambiental e Educação Inclusiva e autor dos livros “Lelezinho, o pintinho que ciscava pra frente e andava pra trás”, “Lelezinho vai à escola” e “Minha janela para o nascente”.

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