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Poços de Caldas

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“Estava denunciando a ideologia de gênero, essa anticiência”, afirma vereador

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A convite de Ricardo, membros de igrejas compareceram à sessão.

Os comentários feitos pelo vereador Ricardo Sabino (PSDB) na sessão da Câmara do dia 24 de abril continuaram a ser tema de discussão na reunião realizada nesta terça-feira (2). A convite do parlamentar, membros de várias igrejas e paróquias da cidade estiveram presentes na Câmara como forma de demonstrar apoio ao discurso proferido por Ricardo, que comemorou a retirada dos termos ‘identidade de gênero’ e ‘orientação sexual’ da Base Nacional Curricular do Ministério da Educação (MEC).

“Nós nos sentimos representados na fala dele e quisemos nos mostrar a favor do que ele disse, contra a ideologia de gênero, que nós sabemos que tem tantos outros nomes: identidade de gênero, debate sobre gênero, igualdade de gênero e outras. Nós, como família, somos contra. Não queremos que isso seja ensinado para nossos filhos dentro da instituição escolar. Mandamos nossos filhos para a escola para serem escolarizados e não educados na moral e religião, isso cabe aos pais. Viemos reclamar esse nosso direito, de sermos pais e podermos dar aos nossos filhos a educação e a convicção religiosa que trazemos”, argumentou a dona de casa Evelyn Cristina Pereira.

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Vereador Ricaro Sabino voltou ao assunto nesta semana.

Também estiveram presentes na reunião membros de movimentos sociais que discordam da fala de Ricardo. A historiadora e militante Lilian Venceslau chegou a enviar, para todos os vereadores, uma contra-argumentação. Em entrevista, ela declara que o papel de um agente político é estudar um mesmo tema sob várias vertentes antes de se pronunciar. “Existem várias versões, pensamentos e ideologias sobre um mesmo assunto. O que o político deve fazer? Qual deve ser a função dele? Estudar sobre todas as vertentes, para não cair no senso comum ou fundamentalismo e, após estudar, traçar maneiras de não excluir ninguém. Porque, a partir do momento que ele só tem um campo de visão e só governa para aquele campo de visão para o qual foi eleito, ele exclui a sociedade e não faz política para a sociedade como um todo”, afirmou.

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Durante o intervalo da sessão, Ricardo aproveitou para cumprimentar os amigos que compareceram e voltou a falar com a imprensa sobre a repercussão do vídeo em que faz uso da tribuna para comentar a decisão do MEC. “Não sou e não fui preconceituoso. Respeito a escolha de todas as pessoas. Graças a Deus, vivemos num país que nos dá liberdade. Eu realmente estava denunciando a ideologia de gênero, essa anticiência que vai dizer que a criança nasça sem sexo, nasça neutra. Isso não existe. A natureza colocou em nós um carimbo, nascemos homem e mulher. Entendo que algumas pessoas podem não ter se sentido representadas pela minha fala, mas um grupo muito grande se sentiu, sim, representado”.

Apesar de afirmar não voltar atrás no que disse, o vereador comentou também sobre o pedido protocolado pela mestranda em educação e pesquisadora de gênero, Andréa Benetti, em também fazer uso da tribuna, que será votado na semana que vem. “Eu não tenho a menor dificuldade em votar a favor do uso da tribuna, justamente porque aqui é a casa do povo. Eu sou a favor da democracia. Voto, com muita tranquilidade, para que eles tenham o espaço deles e se manifestem”, finalizou.

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Na tribuna

Carlos Roberto: “Em relação à ideologia de gênero, não aceitamos”.

Durante o uso da tribuna desta semana, vereadores aproveitaram para comentar o discurso de Ricardo. Membro do Partido Social Cristão (PSC), o professor Carlos Roberto de Oliveira Costa se mostrou favorável à fala de Sabino. “Enquanto membros do Poder Legislativo devemos, sim, respeitar e governar para todas as pessoas, no que refere às questões de saúde, educação, segurança. Em relação à ideologia de gênero, que realmente é uma questão irrefutável do ponto de vista científico, nós não aceitamos. Isso não quer dizer que somos preconceituosos ou que estamos pregando contra qualquer grupo de pessoas, estamos apenas manifestando nossa posição”, declarou.

Maria Cecília: “O que não se pode é instigar o ódio”.

 

Os vereadores Maria Cecília Opipari e Paulo Tadeu, ambos do PT, também se posicionaram. “O que não se pode é instigar o ódio, instigar o preconceito. Não se pode instigar uma coisa que não existe. Infelizmente ainda tem muita intolerância, muita falta de respeito. Eu tenho respeito por todo mundo porque isso é humanidade, isso é cristianismo”, contestou Ciça.

Paulo Tadeu: “Não se teve apuro e responsabilidade de informar-se melhor”.

Paulo Tadeu disse acreditar que o discurso foi impróprio e inoportuno. “São informações truncadas, informações sem nenhuma base que são passadas para a população e acabam criando uma situação de conflito e constrangimento onde não existe, porque não se teve cuidado, não se teve apuro e responsabilidade de informar-se melhor antes de trazer um tema desta envergadura pra um debate”, ressaltou.

Gustavo Bonafé: “Prefiro entender o outro lado”.

Último parlamentar a fazer uso da tribuna, Gustavo Bonafé (PSDB) resolveu comentar sobre a importância da diversidade para a vida política. “A gente precisa entender a diversidade não como algo que nos afaste e que nos convide a escolher uma determinada posição. Mas como um grande convite para que a gente possa exercer a essência da nossa posição como atores públicos. Invés de tentar defender um ponto em que eu acredito cegamente, prefiro entender o outro lado e ver se a gente consegue, juntos, encontrar um caminho”, finalizou.

Leia na íntegra o documento enviado a todos os vereadores pela historiadora e militante social Lilian Wenceslau:

⁠⁠⁠População poços-caldense e representantes do Legislativo

Lilian Venceslau

Peço licença para contra-argumentar alguns fatos pertinentes ao que foi explicitado na sessão da Câmara dos Vereadores de Poços de Caldas em 25/04/2017 pelo vereador Ricardo Sabino dos Santos.

Ricardo da Zélia: assim o vereador foi nomeado durante todo o período eleitoral, sendo inclusive este seu nome na urna. A minha luta enquanto feminista sempre foi de desmistificar a construção histórica machista da superioridade do masculino frente ao feminismo, do hétero frente ao homossexual, enfim, toda essa construção binária de parâmetro comparativo de certo e errado. Quando assisti à fala do vereador na última sessão da Câmara falando sobre “ideologia de gênero” me lembrei do seu nome na campanha: Ricardo, da Zélia; através dessa análise encontrei uma incoerência no seu discurso.

Não sei se o vereador já estudou a objetificação da mulher na sociedade, mas a mulher dentro desse contexto sempre é de alguém: do marido, do namorado e por aí vai… a Maria do João, a Bruna namorada do Fernando etc. Sua campanha inconscientemente levantou uma bandeira feminista, que o Ricardo pode ser sim da Zélia, a Zélia na sua campanha não é mais objeto do Ricardo, a mulher não é conhecida por conta do marido, mas sim, o marido que ficou conhecido por conta de uma mulher. Não estou aqui para dizer que a sua cultura é errada, nem poderia, nenhuma é.

Como historiadora, jamais entendo construções culturais como erradas, são apenas pontos de vista. Porém, o erro está em tornar público o que é intrínseco. Aí está a chave da questão de muitos erros dentro do que é público: culturas dominantes que querem a todo custo impor o seu ponto de vista e, infelizmente, neste caso, o seu ponto de vista é excludente, exclui grupos e vidas de muitos poços-caldenses, o que destoa da filosofia religiosa de que todas as vidas são extremamente importantes, porque são únicas e sendo únicas não podem ser generalizadas como certas ou erradas, apenas são.

Nunca vi, em toda a luta LGBT de Poços de Caldas, os militantes pedirem uma ditadura homossexual (da qual eu não poderia participar por fazer parte daquilo que significam como hétero), daquelas que buscam excluir o hetero dos livros didáticos, das discussões em sala de aula, excluir o hétero por ele estar no polo oposto comparativo, mas, infelizmente, já vi isso acontecer várias vezes do dito lado hétero, quando exclui o homossexual através da normatização de padrões. Aquele que ocupa um cargo público está inserido dentro da sua lógica cultural, que repito não é errada, porém, o ocupante do cargo como representante da população e não apenas do grupo que o elegeu não deve de maneira alguma se fechar apenas em seus pensamentos e conhecimentos, que muitas vezes são pautados no senso comum e em fundamentalismos.

Essa é uma importante reforma política, saber olhar com amplitude e profundidade todos os aspectos culturais e sociais, enxergar todos os olhares, e ao final de toda análise tomar atitudes que não sejam excludentes e que não beneficiem apenas um grupo da sociedade em detrimento de outros. Ser religioso, e essa é uma das questões históricas que mais me dedico a estudar, não é ser fundamentalista no sentido de impor apenas o seu olhar para o social/cultural.

Ser religioso é trabalhar para as pessoas, com as pessoas sendo o que realmente são e ensinando todos a respeitar as diferenças. Conheço vários religiosos de diversas vertentes que assim o são e que possuem meu total respeito e é através deles que compreendo que quem não sabe respeitar a diversidade está totalmente alienado na cegueira daquilo que bate no peito para dizer que é ou que pensa saber que o é.

Para finalizar, a preocupação com a família tradicional é infundada visto que a família tradicional não será destruída se todos nós aprendermos a respeitar todas as configurações familiares, ela apenas será (e já é) mais uma no meio de tantas já existentes e cada um será aquilo que é. Queremos apenas um mundo sem preconceitos, harmônico e humanista, que aprenda a não excluir ninguém. Lilian Venceslau é historiadora e militante social.



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