Sinceramente, não sei como começar esse artigo diante da riqueza de fatos que estão sendo jogados na cara dos eleitores. O volume de informações para alimentar e fundamentar o meu texto é tão vasto e de tal intensidade que estou confuso, indignado e humilhado como cidadão brasileiro.
O ministro Edson Fachin, do STF, liberou recentemente nomes de importantes figuras políticas estabelecidas em Brasília e em outros estados. São senadores, deputados, governadores, ministros, ex-presidentes da República e políticos que não mais fazem parte dessa classe indigna de representantes do povo nas deliberações voltadas para os destinos do Brasil.
Vou tentar ser conciso para não me tornar prolixo, colocando apenas questionamentos.
Mais de 1/3 dos senadores, incluindo o presidente do Senado, estão sendo apontados por irregularidades depois das denúncias feitas por Marcelo Odebrecth, dono de uma das mais importantes construtoras desse país. Quase 10% dos membros da Câmara Federal e mais de 16 partidos estão envolvidos nessa grande “maracutaia”.
Dezenas de deputados, incluindo também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (que vem a ser genro de Moreira Franco – também indiciado – que foi casado com a neta de Getúlio Vargas e filha do Almirante Amaral Peixoto, antigo interventor federal no Rio e ex-governador ), estão nesse rol. Estamos diante de uma belíssima fonte de pesquisa para os genealogistas. Quem é quem e casado com quem e filho de quem…São laços familiares que se perpetuam e se perduram por décadas nos postos chaves da nossa combalida República.
No Rio de Janeiro surge, agora,mais um grande escândalo. O ex-secretário de Cabral, Sergio Cortes, que deveria zelar pela saúde daquele povo, terá que justificar os R$ 300 milhões surrupiados, ao longo dos últimos dez anos, em conluio com um empresário responsável pela venda de equipamentos médicos de alta complexidade. Sejamos justos: parte desse dinheiro foi desviada para o ex-governador que já devolveu – a contragosto – outros R$ 250 milhões entre joias, barras de ouro e din-din depositado no exterior. Estamos falando em meio bilhão de reais e, certamente, isso é somente a ponta de um grande iceberg carioca submergido na quente e poluída Baía da Guanabara. Enquanto isso os professores e aposentados naquele estado ainda não receberam seus salários e proventos do mês de janeiro.
O que se questiona é como toda essa dinheirama investigada pela Operação Lava-Jato saiu do país e foi serenamente depositada em bancos na Europa, Caribe ou em outros paraísos fiscais sem que pudesse ser rastreada ou fiscalizada. O que se questiona é o imenso patrimônio amealhado em tão pouco tempo por esses detentores de cargos de confiança, políticos e funcionários sem que essas elevadas importâncias tivessem sido cotejadas pela própria Receita Federal, tão eficiente e competente para fiscalizar o pobre contribuinte nas suas declarações anuais de renda e tão inoperante nesses casos.
Importante lembrar que todo esse grande “imbróglio” está sempre vinculado, na sua essência, ao processo eleitoral, com doações, em alguns casos, absurdamente elevadas e qualificadas como caixa 2 ou outra denominação qualquer. Quem milita nos bastidores da política sabe, e bem, como isso acontece e de que forma essas contribuições ocorrem. Mas a prudência exige, nesse momento, silêncio e cautela.
Continuo afirmando, e disso estou convicto, que a moralização de todo esse processo se inicia no município, onde o voto é efetivamente exercido. A semente das doações espúrias contamina todo o processo eleitoral e vicia os políticos. Sobretudo aqueles que almejam voos mais altos e com projetos políticos mais audaciosos. Os interesses são escamoteados. Eles existem e não transparecem à luz para os eleitores. Mas isso é uma longa história que não pode ser dita agora. O momento é para fazer apenas questionamentos e cabe ao leitor refletir. E dizer que o Collor caiu por causa de uma Fiat Elba… Só rindo… Apenas isso.
*Léo Bougeard nasceu no Rio de Janeiro e estudou Ciências Políticas na Europa em 1965. Formado em Direito, foi conselheiro para o comércio exterior da Bélgica por mais de dez anos, cidadão honorário de Poços de Caldas e ex-Secretário de Turismo. Escritor e editorialista (lbougeard@yahoo.com.br).