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Um Urbano mais Humano: redescobrir o meu, SEU, NOSSO lugar

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No texto de hoje pensei em convidá-los à reflexão sobre como tomamos decisões e também sobre o processo decisório.

Se decidimos ter uma cidade para pessoas e com pessoas teremos uma cidade com pessoas, felizes, convivendo em espaço público juntos, dividindo atividades e funções, na diversidade que a vida e a cidade merecem.

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Mas se decidimos ter uma cidade com carros, veloz, rápida, eficiente, teremos uma cidade de carros e para carros, rápida, sem olharmos para o lado, sem pararmos para pensar onde e como vivemos.

E pergunto: QUE CIDADE QUEREMOS?

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Neste caso me veio em mente o projeto para a requalificação urbana de Melbourne, capital do estado da Virgínia, na Austrália, e gostaria de contar essa história.

O processo de requalificação para a cidade tem como principal foco a redução de veículos e uma reversão de áreas centrais em lugares para pedestres, para se sentar, para contemplar, conviver e olhar.

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Toda a mobilização para a reforma e mudança da cidade se inicia no final da década de 70  do século XX e estabelece um “renascimento urbano”, propondo um reconhecimento das potencialidades da cidade.

Neste ponto, gostaria de chamar atenção para nossas atitudes.

Houve algum momento da nossa vida corrida diária em que fazemos tudo sem sequer pensar sobre o que estamos fazendo, ou porque estamos fazendo? Essa compulsão no consumo do tempo e das coisas diárias, paramos para olhar ao redor? Olhar o outro, nosso semelhante? Há espaço no dia para pensar sobre o quanto conhecemos o lugar onde moramos, passeamos, andamos e vivemos? E sobre o que jogamos fora? Onde jogamos? O que descartamos? Quem cuida do nosso ‘lixo’e para onde ele vai?

Pois é, em Melbourne isso foi feito. E não foi agora, nem ano passado, mas foi com um pequeno texto publicado em jornal local há quase 50 anos.

No período compreendido entre 1978 e 2014, ou seja mais de 3 décadas, Melbourne estabelece uma prática contínua de compreensão da cidade.

E a data marco deste início de reversão da cidade é 1978, na qual o trecho do artigo do Professor Norman Day intitulado “The Age” descreve a cidade como “Um centro de cidade vazio, inútil”:

“O Planejamento urbano eficaz tem sido quase desconhecido em Melbourne por pelo menos 30 ou 40 anos. Isso significa que nossa cidade ‘Melburnian‘ tem sido progressivamente destruída. “

Ele [o centro] não contém mais a atração e o charme que uma vez teve.”

“Para os comerciantes da cidade – sempre prontos a se adaptar às novas circunstâncias – significa uma cara expansão para buscar nos subúrbios os clientes que já não visitam a cidade.

“Nossos planejadores não têm a coragem de trazer a cidade de volta à vida”.

Citação de “The Age”, junho de 1978

Artigo por Prof Norman Day

 Será a partir deste artigo que as práticas urbanas vão iniciar um continuo processo para sua transformação.

E inicia gradativamente, e com a participação de profissionais arquitetos, urbanistas, psicólogos, cientistas sociais, advogados, ou seja uma diversidade de profissionais que a cidade exige dentro de sua complexidade humana, a transformação paulatina de suas ruas, vias , calçadas e as adoráveis e glamurosas galerias de miolo de quadra, perdidas e esquecidas ao longo de sua história.

É na transformação dessas ruas, vias e outros espaços em locais públicos que se dá a transformação e o resgate da cultura local.

Em 1993 o professor Jan Gehl foi convidado pela cidade de Melbourne para realizar um levantamento de espaços públicos e da sua vida pública.

Os dados coletados sobre a vida e espaço público são apresentados em uma cartilha chamadaPlaces for people: Cidade de Melbourne 1994”, que incorporou tanto a análise e um conjunto de recomendações gerais quanto um vasto diagnóstico, se transformando na principal ferramenta para se estabelecer um método e uma continuidade para o constante desenho da cidade.

Com uma população de 3,3 milhões de habitantes, Melbourne é a segunda maior cidade australiana. Sua história, condensada na malha urbana é uma mistura de edifícios altos e baixos no centro da cidade, lembra muitas outras grandes cidades.

No entanto, Melbourne segue na contra mão do desenvolvimento voltado para o carro e decide ir contra a produção de centros comerciais em espaços fechados [shoppings centers] e no aparelhamento e multiplicação de vias voltadas aos automóveis, cada vez maiores, largas e com vertiginoso aumento do número de veículos particulares e por consequência um progressivo abandono do transporte coletivo.

Em 1980, o Conselho Municipal de Melbourne estabelece diretrizes para o centro da cidade de Melbourne tentando reverter o diagnóstico apresentado pelo professor Norman Day em 1978, como sendo um lugar “o planejado e inóspito, com uma abordagem ‘laissez-faire’ para novo desenvolvimento. Essas diretrizes têm como pano de fundo a avaliação dos programas de melhoria realizados ao longo dos 20 anos 1985-2005.

Em 1993, o professor Jan Gehl foi convidado pela cidade de Melbourne para realizar um levantamento de espaços públicos e da vida pública em Melbourne. O estudo examinou os problemas e as oportunidades que a cidade oferecia e suas potencialidades, identificando identidades, cultura local e modo de vida urbana.

O estudo observou tanto o espaço público quanto a vida pública e os dados coletados foram apresentados em ‘Places for People: Cidade de Melbourne 1994’, incorporando tanto a análise, quanto um conjunto de recomendações gerais. Dentre as recomendações estava a grande diferença do plano: a REVISÃO  dos dados coletados que deveria ser refeita em 10 anos.

Aqui caberia nova reflexão nossa para este texto e para nossas cidades. Nossos planos são esquecidos de uma administração a outra. Que tal começarmos a seguir continuamente planos como se não fossem propostas fechadas, mas sim elementos de discussões e REVISÕES continuas?

Planos e propostas devem ser para a cidade e da cidade e não de autores, com nomes que se eternizam em ações incompletas, ou programas interrompidos. Vamos pensar nisso, a REFLEXÃO É CONSTANTE E CONTINUA e não interrompida e recomeçada a cada 4 anos…

Mas, seguindo com o exemplo de Melbourne, neste período de implantação das recomendações, foram feitas uma série de mudanças normativas e adaptações urbanas. A publicação serviu como base para o desenvolvimento e melhoria dos espaços públicos de Melbourne, à medida que novos projetos poderão ser medidos a partir das diretrizes de 1994.

2004: PLACES FOR PEOPLE

Em 2004, o professor Jan Gehl e Gehl Architects foram convidados a retornar à Melbourne para atualizar o estudo anterior, em associação com o Design e Cultura divisão da Câmara Municipal de Melbourne.( Design and Culture division of Melbourne City Council.)

As conclusões e recomendações do estudo de 2004 são apresentados neste novo relatório. O propósito e os métodos para os estudos de 1994 e 2004 foram mantidos idênticos, a fim de criar uma oportunidade para comparações diretas.

O resultado foi uma inversão da longa tendência de queda na atividade comercial e do emprego. Houve uma redescoberta da cidade que agora se reconhece como um centro de cultura e entretenimento, um paraíso para as pequenas empresas criativas, e um ótimo lugar para viver e aprender.

Aqui um exemplo, de milhares de melhorias que aconteceram no centro da cidade, mas que gostaria que refletíssemos mais uma vez sobre o espaço público de todos e para todos. Melbourne cresceu em números de assentos públicos (gratuitos, públicos, para sentarmos e conversarmos, ou simplesmente para ler, ver e olhar) em 177% desde 1993. Isto significa um uso muito mais intenso do espaço público, em crescimento desde a tomada de decisão de se reverter a área central em um lugar habitável, diverso e coletivo, ou seja, mais HUMANO.

Evoluir questões urbanas exigem que continuemos a buscar novas vias de excelência em áreas urbanas design, particularmente em resposta a mudanças nos padrões de uso e de expansão da população. Coletivamente, os resultados da pesquisa, análise e uma série de recomendações proverá nova orientação ao longo da década para alcançar a nossa visão para uma cidade próspera e sustentável.” (Lord Mayor, John S, in Places For people, 2004)

Fig. 1- ‘Place for people” Jan Gehl, disponível em http://gehlpeople.com

 

O método e a urgência em se reverter a forma de produção das cidades, principalmente áreas centrais, como caso das metrópoles, ou em cidades menores onde a dinâmica comercial tenha afastado lugares de convívio e tenha se transformado em ‘desertos de concreto’, é inevitável reflexões locais para se entender as dinâmicas de nossas cidades e propor a reversão pública de acordo com cada lugar.

Cidades sem violência e pensando em espaços comuns, para todos, com cultura, inclusão e muita musica como são os espaços do coreto, na praça do Palace Hotel ou em eventos como a ‘Sinfonia das Águas’e tantos outros, aqui e Poços.

Mas por favor, que aconteça em toda a cidade, nos bairros, para todos e não somente no centro, como é recorrente aqui em Poços, mas que cada bairro possa redescobrir seu potencial artístico, cultural, literário, musical… enfim, que a cidade seja cidade em toda e por toda a cidade.

 

*Adriane Matthes é arquiteta e urbanista – mestre e doutoranda em urbanismo  pela PUC Campinas; professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas.

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