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Poços de Caldas

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‘Um Urbano mais Humano: ‘a enchente de 19/01/2016 – PROBLEMA OU SINTOMA?’

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whatsapp-image-2016-11-08-at-16-41-36PROBLEMA: algo que incomoda, atrapalha, gera controvérsia e a partir da investigação estudo e pesquisa se chega à uma solução.Diz-se que somente se tem uma boa resposta a partir da boa definição da pergunta a ser feita em relação ao problema.

SINTOMA: Sintoma é algo decorrente do problema; em medicina, se chega a um bom tratamento através da boa definição dos sintomas, somente assim se conhece o problema e para  tal delimitação, fundamental para que se obtenha cura e /ou sucesso, se inicia o processo de tratamento em curto, médio e longo prazo.

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Neste artigo que antecede a data de 1 ano da enchente do dia 19 de janeiro de 2016, gostaria de chamar a todos para uma reflexão que acredito ser pertinente sobre este tempo. Passado um ano, em meio a discussões, atitudes públicas, grupos urbanos que surgiram em solidariedade às pessoas atingidas na ocasião e grupos sociais diversos com atuações urbanas de clara manifestação política (política em sua máxima definição grega onde cidade = polis e portanto, praticar política é a simples ação urbana, com responsabilidade e sem violência) e não necessariamente partidárias, mas que gritam de forma civilizada pelo bem estar comum e por grande amor à cidade onde nasceram, cresceram e/ou decidiram viver.

Nesse sentido proponho uma leitura gráfica para contemplação de imagens históricas que registram a ocupação desde a descoberta do poder precioso e único de nossas águas, chamando a atenção para a presença daquela que nos constituiu como início e sentido urbano: a água termal, o solo com suas fraturas coincidentes com nossos rios que inundam o vale e onde decidimos estar.

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Ocupamos o pé da serra de São Domingos e para isso racionalizamos os rios impondo aos meandros naturais de suas margens a retidão racional que ora se pensava ‘civilidade’ e, portanto, assim ocupamos acreditando ser a melhor forma de dividir e compartilhar o espaço da cura de males do corpo com a natureza, existente, única e exuberante.

Iniciemos então a viagem pelos mapas e registros fotográficos, históricos ou não, antigos e atuais.

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Figura 1 – Fonte: “Arquitetura e permanências: o projeto urbano na constituição da esfera pública / Adriane Matthes.- Campinas: PUC-Campinas, 2005. Disponível in https://www.researchgate.net/publication/268278129_Arquitetura_e_permanencias_o_projeto_urbano_na_constituicao_da_esfera_publica_Adriane_Matthes-_Campinas_PUC-Campinas_2005

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Figura 2 – Análise feita pela autora na dissertação de Mestrado da autora em 2005 in “Arquitetura e permanências: o projeto urbano na constituição da esfera pública / Adriane Matthes.- Campinas: PUC-Campinas, 2005. Disponível in https://www.researchgate.net/publication/268278129_Arquitetura_e_permanencias_o_projeto_urbano_na_constituicao_da_esfera_publica_Adriane_Matthes-_Campinas_PUC-Campinas_2005

No detalhe do mapa de 1865, mostrado acima foi feita a demarcação do curso natural do rio Ribeirão do meio ou dos poços, já que os poços para banho estavam localizados ao longo de suas margens em cabanas feitas, na maioria das vezes pelos “aquáticos” ou ‘curistas’ como eram chamados, em madeira e coberturas em sapé, desmontadas após termino do tratamento.

Gostaria de destacar a necessidade de geometrização do Leito do rio no plano de 1872 onde vemos o arruamento direcionando o sentido e a forma final do rio que compõe a imagem do centro urbano de Poços de Caldas e que ainda prevalece com forte influência na composição morfológica da área mais valorizada, não só pelo poder econômico como também por turistas e moradores.

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Figura 3–Análise feita pela autora sobre material coletado em pesquisa no curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas, apresentado na dissertação de Mestrado da autora em 2005 in “Arquitetura e permanências: o projeto urbano na constituição da esfera pública / Adriane Matthes.- Campinas: PUC-Campinas, 2005. Disponível in https://www.researchgate.net/publication/268278129_Arquitetura_e_permanencias_o_projeto_urbano_na_constituicao_da_esfera_publica_Adriane_Matthes-_Campinas_PUC-Campinas_2005

Nesta imagem se percebe os meandros do rio com seu desenho original e sua adaptação ao arruamento proposto. O plano de execução para a implantação do arruamento de 1872, feito pelo Engenheiro Arquiteto Carlos E. Maywald.

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Figura 4 – in “Arquitetura e permanências: o projeto urbano na constituição da esfera pública / Adriane Matthes.- Campinas: PUC-Campinas, 2005. Disponível in https://www.researchgate.net/publication/268278129_Arquitetura_e_permanencias_o_projeto_urbano_na_constituicao_da_esfera_publica_Adriane_Matthes-_Campinas_PUC-Campinas_2005.
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Figura 5 – Mapa mostrando as fraturas geológicas principais e secundárias e a Hidrografia no território municipal. Disponível em http://www.pocosdecaldas.mg.leg.br/legislacao/plano_diretor/

Nas figuras 04 e 05 conseguimos perceber a malha urbana adaptada ao fundo de vale e se acomodando ao pé da serra São Domingos e se sobrepondo às infinitas nascentes e leitos dos principais rios, na maioria das vezes cobertos para dar acesso ao tapete principal para o escoamento do automóvel ou às residências, comércios e serviços.

Outra questão também já comentada acima é a retificação das margens dos rios, compondo então a ideologia racional do urbanismo moderno iniciado em finais do século XVIII , consolidado no século XX e repetida até os dias atuais.

Seguem algumas imagens do Google Earth, acessado em 16/01/2017 onde mostra a imponência da serra São Domingos e a ocupação da malha urbana ao longo do fundo de vale, formando um ‘T’ em direção a região sul, acesso a Andradas, MG.

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Figura 6 – Mapas retirados da Revisão do Plano diretor de poços de Caldas, 2006 – Disponível em http://www.pocosdecaldas.mg.leg.br/legislacao/plano_diretor/ – No Primeiro mapa a impressionante Hidrografia do município.
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Figura 7 – Vista aérea de Poços de Caldas – imagens comparativas mostrando a verticalização da área central de Poços de Caldas e as anotações feitas pela autora mostrando os rios principais, responsáveis pela forma urbana das vias e a geometrização dos rios para a organização da malha urbana. Fonte:http://www.memoriadepocos.com.br/search/label/Ontem%20e%20Hoje?updated-max=2010-06-13T10:00:00-04:00&max-results=20&start=20&by-date=false
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Figura 8–Vista do Hotel da Empreza Balnearia – Cartão Postal acervo pessoal Antonio Carlos Rodrigues Lorette

 

 

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Figura 9 –Primitivas Thermas e telefônica, vendo-se ao fundo Hotel da Empreza Balneária e Balneário Pedro Botelho (ja demolidos) – Cartão postal, acervo pessoal Antonio Carlos Rodrigues Lorette.
Figura 10 – Vista da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas -- Cartão postal, acervo pessoal Antonio Carlos Rodrigues Lorette.
Figura 10 – Vista da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas — Cartão postal, acervo pessoal Antonio Carlos Rodrigues Lorette.
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Figura 11–Cartão-postal do acervo do Memória de Poços de Caldas. Observe a absoluta ausência de grandes edifícios no centro da cidade, destacando a Igreja Matriz, provavelmente na segunda metade da década de 1950.fonte: http://www.memoriadepocos.com.br/

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Figura 12 – Fonte: http://www.memoriadepocos.com.br/search/label/Ontem%20e%20Hoje?updated-max=2010-06-13T10:00:00-04:00&max-results=20&start=20&by-date=false

Rua Junqueiras onde vemos a ponte e o Córrego Vai e Volta, hoje tampado e ocupado em sua superfície. Este foi o principal ponto da enchente de 19 de janeiro de 2016, onde as águas do rio, juntamente com as águas da forte chuva destruiu uma loja de tecidos e rompeu as paredes com a velocidade da vazão da água represada e/ou tamponada, situação encontrada desde sua Nascente até este ponto onde o córrego encontra o ribeirão de poços e de Caldas indo em direção à avenida João Pinheiro.

Na figura 13, vemos a ponte sobre o Ribeirão da Serra e seu tamponamento para abrigar o Terminal Urbano da Cidade. Um dos pontos críticos do trafego, comprometendo não só o Ribeirão da Serra, como também o fluxo de automóveis e o que me parece mais grave, a falta de cuidado e identidade com o patrimônio Cultural e ambiental negando sua história num prédio onde funcionou, desde a fundação da cidade até a década de 70, o Mercado Municipal.

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Figura 13 – Antigo mercado Municipal de Poços de Caldas – Cartão postal, acervo pessoal Antonio Carlos Rodrigues Lorette.

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Segundo o Blog Resgatando Cidades.com, Rafael cita: “… Esta é a Rua Bahia em 1920, que atualmente se chama Rua Prefeito Chagas. Nesta época o rio lambari que vinha desde a praça dos macacos ainda não estava coberta. O casarão a esquerda onde hoje tem várias lojas (como “Coisa certa”, “Quorum” e “CVC”) estava a “Agencia Geral de Jornaes”. E na direita, ficava “Officina de Ourivesaria” aonde hoje é o estacionamento Imperial. Ao fundo a direita dá pra ver também o casarão aonde hoje fica o café Sá Rosa e outras lojas de roupas.Fonte: http://www.memoriadepocos.com.br/2011/07/agencia-scalabrino-i.html in http://resgatandocidades.com/pocosdecaldas/comparacoes/ribeirao-da-rua-prefeito-chagas/

E para finalizarmos a reflexão gráfica, segue outro exemplo de ocupação de nossos rios, num descaso absurdo de nossa história local e numa grande audácia de invasão ambiental, a construção de um grande equipamento público de esporte e lazer dentro de uma cascata de águas caudalosas, o Ginásio Moleque Cesar construído na Cascatinha, local histórico e de lazer para piqueniques em tempos longínquos.

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Segundo o site Memória de Poços, “…O Imperador permaneceu por dois dias na cidade, acompanhado de grande comitiva, como era costume, tendo visitado pontos ainda hoje importantes de Poços de Caldas, como a Cascatinha (acima, fig. 17) e a Cascata das Antas.”slide38

As figuras 18, 19 e 20 nos mostra a clara e recorrente forma de ocupação, que se apropria das áreas ambientalmentefrágeis, como a antiga ‘Cascatinha’, palco de caçadas e cenários para fotos como a que tirou Dom Pedro II em 1886, por ocasião de sua visita para a inauguração do Ramal Férreo da Mogiana em Poços de Caldas.

Hoje, esta paisagem um dia histórica, hoje é somente um nome repetido sem nenhum outro significado, a não ser o de abrigar um bairro onde há um Ginásio, que atende a população com suas práticas esportivas e também faz parte de um trecho da avenida de acesso aos bairros da zona sul e à cidade de Andradas, MG.

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Acredito ter no conhecimento da história do lugar, a compreensão da evolução da cidade. Entender o processo de ocupação de cada lugar é o que pode nos levar a alguma solução que possa refletir a essência de cada lugar e espaço. A essência é o que define a identidade de cada espaço, de cada grupo social. Somente assim se consegue propor o que realmente encanta àquele que mora, que passa e que visita.

Este texto gráfico pretende subsidiar propostas numa possível solução para o problema, que é não só técnico, mas principalmente social e ambiental. Uma chance para o resgate de nossa identidade, um RESGATE DA ÁGUA que nos originou.

O CÓRREGO VAI E VOLTA, não é o vilão, ele é sim o SINTOMA de uma ocupação que não olha para a ÁGUA. Uma ocupação urbana que constrói em nascentes, em cachoeiras, em áreas ambientalmente frágeis e que não olha o mais precioso do ‘SEU LUGAR’: a ÁGUA TERMAL, a água que cura e a água que banha o vale do planalto de rochas alcalinas, nossa Bela Poços de Caldas.

*Adriane Matthes é arquiteta e urbanista, mestre e doutoranda em urbanismo  pela PUC Campinas e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas.

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