- Publicidade -
16.5 C
Poços de Caldas

- Publicidade -

Em que escola devo colocar meu filho?

- Publicidade -

andrea-benettiÉ a pergunta que muitas famílias se fazem quando se descobrem diante da necessidade ou da vontade de matricular os filhos pequenos em escolas de Educação Infantil ou Ensino Fundamental. Há uma multiplicação de escolas baseadas em métodos pedagógicos específicos e os pais, que em maioria não são especialistas em pedagogia, se veem diante do difícil dilema de escolher a escola, considerando o modelo que mais parece se enquadrar nos valores da família e no que esperam da educação formal, no caso, óbvio, de poderem ainda pagar pela escola, o que não é realidade da maioria das famílias brasileiras. A proposta desta coluna é abordar, com meu olhar de pedagoga, mas também de mãe, as questões ligadas às “inovações” pedagógicas, que aparecem como o “milagre do diferente”, disponíveis nos dias de hoje.

“Pra quem não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve.” É com essa frase, adaptada de um famoso livro infantil, que o filósofo Mario Sérgio Cortella solidifica suas falas sobre a educação na atualidade. O que queremos quando falamos em qualidade da educação? Onde queremos chegar? O que pretendemos com a educação formal de nossas crianças? Pra quê escola? Essas e outras questões precisam ser levantadas quando estamos buscando a escola para matricular nossos filhos pequenos, mas uma delas talvez seja o segredo: entender que a escola também é processo e não só resultado. Durante os anos de escola, a criança já é. Nós não podemos mais tratar as crianças como seres que só serão algo ou alguém depois de formados na Universidade, nem entender que o processo pedagógico é um resultado, sem um meio.

- Publicidade -

Já passa da hora de começarmos a questionar a venda de métodos pedagógicos como bandeira de marketing, como já é feito há décadas pelos famigerados apostilados, franquias que promovem verdadeira “corrida”, completamente desumana e com viés de produtividade industrial aos alunos, com um único fim: o vestibular. Abrir uma escola apostilada é comprar a franquia, promovendo depois (e durante), um modelo de exclusão que terá, seguramente, no Ensino Médio, menos que 15 alunos em média em cada sala de aula, propositalmente, de modo a manter somente os “melhores”, leia-se, alunos que melhor se adaptam ao massacre e inquestionamentos das apostilas, diga-se de passagem, desde os 3 anos de idade ou menos. Quanto mais cedo, mais reconhecida é a escola. — Olha, meu filho tem apostila aos 2 anos! –Ah, lá não tem moleza! –Dever de casa é todo dia! –O menino não tem férias! –No terceiro ano quase ficou deprimido! E os adeptos deste modelo ainda tem a pachorra de chamar professores de escola pública de doutrinadores. Se isso não é doutrinação de mercado e educação bancária, o que seria?

E o que surge após e convivente (e conivente) com a era dos apostilados se propõe a manter a linha do diferente, afinal, o apostilado, mesmo dentro dos adeptos da educação privada, nota-se logo que nada tem de individual. A apostila massifica, desconsidera toda e qualquer diferença de tempo para o aprendizado, universaliza o conteúdo e abre pouco ou nenhum espaço para as vivências que provocam verdadeiro aprendizado para a vida e a coletividade. Quanto menor a criança, de mais crueldade que estamos falando. Então, diante dessa massa de apostilados franquias é que temos visto surgir as mais recentes (caras) “inovações pedagógicas.” Afinal, meu filho vai estudar em uma escola privada, mas não pode ser como as outras! Tem que ser uma escola bilíngue, mesmo que ele tenha 2 anos de idade! Ou então, olhe só, que diferente, a escola se utiliza de metodologia alemã! (Hã?)

- Publicidade -

Importante sim é considerar as aptidões da criança e os desejos da família para incluí-la no ambiente escolar. Se meu filho (e não eu, somente) demonstra interesse pela arte, por que não uma escola que considere a arte na construção do conhecimento e do ser humano? Caso considere a importância do pensamento construído pela criança, aí sim, escola construtivista (bem avaliada e dada à devida proporção). O importante é não se iludir e não buscar comprar essa ilusão a qualquer custo, literalmente. Precisamos perceber que nenhuma escola irá atender inteiramente a um modelo ou método pedagógico único, simplesmente porque não há metodologia universal! Fazer rodas de debate e assembleias no início das aulas não faz da escola freireana, embora possa demonstrar certa horizontalidade! Manter cartazes com rótulos de alimentos colados na sala não faz dela vygotskiana! Utilizar uma cama baixa não faz da escola motessoriana! Vender aventais com colheres de pau ou bonecas sem expressão no rosto não faz do brinquedo (caríssimo) uma inovação pedagógica, como têm feito as escolas Waldorf, que, diga-se de passagem, são extremamente caras e se espalham a passos largos, agora também na Educação Infantil. Há escolas de qualidade que sabem que, em dados momentos, precisarão recorrer às teorias de Piaget, mas em outros terão que olhar para os historiadores brasileiros ou os sociólogos da atualidade, afinal nenhum teórico conseguirá sozinho dar conta das demandas da educação atual! Precisarão dos artistas de rua, da comunidade escolar e dos alunos! Não há um mito por trás de uma escola de sucesso porque todas as escolas de sucesso que conheço são as que a comunidade escolar construiu ou participa ativamente, incluindo os alunos.

É possível aprender todo o conteúdo? É desejável que isso ocorra? Claro que não. Decisões pedagógicas são escolhas e abdicações. O trabalho com as ferramentas, o ponto de partida da vivência do aluno, as situações-problema, a busca pela resolução, o enfrentamento e o conhecimento das limitações e dos potenciais de sua comunidade, tudo isso precisa fazer parte de uma escola que realmente fale da vida do aluno. Em comum, as escolas de sucesso que conhecemos em termos pedagógicos, Escola da Ponte, Projeto Âncora, Creche da Carochinha, Régio Emília, entre outras, têm o quê? Contexto próprio, protagonismo dos estudantes (sem crer que é semente quem já é gente) e participação da comunidade escolar. São esses elementos, fundamentais em qualquer escola que alcança os objetivos de fazer crianças e famílias felizes, enquanto aprendem se interessando por projetos que lhes falam da vida e não de dados, que conseguem articular o conhecimento na teia do todo e não catando os fragmentos em páginas de apostilas. Não dá pra copiar escolas de sucesso já que é impossível moldarmos uma proposta pedagógica única. Uma escola da comunidade, com participação dela e atendendo aos anseios dessa comunidade é o que pode nos fazer avançar em termos de educação. E esse processo é muito específico! Estando em uma escola de comunidade rural, o trabalho de Arte e de língua portuguesa, de cultura religiosa será completamente diferente do desejado para uma comunidade ribeirinha, onde poderemos trabalhar com as cantigas de roda das rendeiras, e que é diferente de uma comunidade de cidade grande, em que poderemos partir das discussões pertinentes às grandes cidades, e que também será diferente de dar aulas em uma pequena cidade do Sul do Brasil!

- Publicidade -

Último recado para quem estava pensando em desembolsar, ou ainda irá, 6 mil reais mensais em uma escola “diferente”: todos os modelos citados como sucesso entre os educadores, neste texto, são de sistema público ou gratuitos. Dá pra fazer, mas primeiro precisamos decidir de verdade qual escola queremos para os nossos filhos, caso contrário ficaremos igual à Alice quando encontra o gato, perguntando para onde vai a estrada, sem saber para onde quer ir! É a pergunta que está errada, porque é dela que depende a resposta…

*Assina esta coluna junto comigo a minha irmã, a advogada e mãe, Ana Cláudia Marques Benetti, a quem eu agradeço e dou créditos pela ideia inicial do texto e pela alta qualidade do debate.

Veja também
- Publicidade -












Mais do Poços Já
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Don`t copy text!