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‘Um Urbano mais Humano: ‘URBANICÍDIO’

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whatsapp-image-2016-11-08-at-16-41-36o que é urbe?

o que é urbano?

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significado de urbano? urbanus? – arado mexido, feito por mãos humanas, o não natural…

Ao iniciar os textos neste jornal, só conseguia pensar em falar sobre lugares mais humanos para ‘minha cidade’’, entretanto fico pensando sobre o acesso sobre o que escrevo e o quanto esse acesso realmente significa e alcança pessoas que não são da mesma área de formação.

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Pensando nisso, me propus a colocar algumas significações do que entendo ser o urbano. Deixo claro também, que em nenhum momento tenho a pretensão em criar novos significados, e sim propor novas reflexões sobre esse espaço tão falado e pouco pensado: o espaço público mais humano.

Quero então trazer a ideia de urbano mais próxima da ideia de um espaço para humanos, para nós então. Assim, entender o que é urbano e de onde vem é necessário. Convido-os a grande viagem pregressa à raiz da palavra.

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URBE vem do latim URBEM e que tem derivações que significam ARADO, ou seja, aquilo que é mexido, misturado e transformado; arar ou sulcar a terra. Sendo isso, pensemos em urbano como aquele espaço que foi ‘arado’, ‘mexido’, ‘modificado’, por mãos e ações humanas, transformando então em LUGAR, de viver, de trocar informações, vivências, idealizações e realizações.

Urbanizar é então o espaço preparado para se viver e viver com pessoas, o viver com, conviver, o convívio com os outros, o desconhecido, o estranho, o que é diferente de mim ou com aquele que é igual.

Urbanidade é então o lugar de qualidades do urbano, daquela ação que resultou em comodidade, em conforto para estar, permanecer e conviver e ter ações.

Renato Saboya, 2011, ao tentar estabelecer um conceito sobre o que vem a ser urbanidade, coloca algumas considerações que, para ele, são estruturantes para a consolidação de uma possível urbanidade:

Muitas pessoas utilizando os espaços públicos, especialmente as calçadas, parques e praças;

Diversidade de perfis, interesses, atividades, idades, classes sociais, etc;

  1. Alta interação entre os espaços abertos públicos e os espaços fechados, tais como: pessoas entrando e saindo das edificações (o que é desempenhado especialmente bem pelo comércio de pequeno porte – grandes equipamentos tendem a interiorizar essas interações, tal como acontece nos shoppings e nos grandes magazines);
  2. Mesas nas calçadas; contato visual dos andares superiores através de janelas (paredes cegas são um veneno para a Urbanidade);
  3. Diversidade de modos de transporte e deslocamento (pedestres principalmente, mas também ciclistas, automóveis, ônibus, trens, etc.);
  4. Pessoas interagindo em grupos, o que requer espaços que apoiem essas atividades, como bancos, mesas, áreas sombreadas, etc.);
  5. Traços da vida cotidiana – crianças indo à escola, pessoas comprando o jornal, indo à mercearia, fazendo compras, etc. Isso não estava na minha concepção original de Urbanidade, mas depois de conhecer Veneza (aliás, apenas sua área central) me parece algo essencial. Cidades eminentemente turísticas têm milhares de pessoas nas ruas, mas a sensação pode ser a de um museu a céu aberto se não houver traços da vida cotidiana. Quando todos são turistas, não parece haver urbanidade real, apenas movimento de pessoas.

Já para Jordi Borja, 2006, é no espaço público comum que, na América latina e em muitas cidades, se entende como o espaço qualificante. Aquele lugar onde se identifica e se reconhece o indivíduo que participa e pertence a um lugar. É esse espaço que oferece distintas possibilidades para que pessoas possam permanecer nesse espaço e que trabalham para além dos usos e funções, ou de um espaço somente de trocas de mercadorias, mas que melhora a auto-estima do cidadãos, fazendo com que sintam-se atendidos e bem tratados como os outros, “como os da cidade mais formal, mais rica”, (Borja, 2006).

Concluímos então que o espaço público é o lugar onde se constrói a identidade, tanto do indivíduo quanto da coletividade. É o espaço comum que constrói a identidade local.

Neste processo de construção do espaço público, o grande equívoco se dá na compreensão da cidade-circulação. Esse pensar a cidade como formas de escoamento do trânsito, levou a construção de complexos eixos viários que se sobrepõem à dinâmica da vida cotidiana. Borja cita o que dizia Enrique Peñalosa:

“…São Paulo, na década que governou Maluf e seus amigos, criou vias expressas urbanas que eram um crime, um “urbanicídio”.

Os novos espaços que são criados para o convívio e as práticas sociais na cidade se constituem em espaços equivocados, que se traduzem em estruturas descoladas do tecido urbano. São parques temáticos fechados sobre si mesmos, se configurando em apropriações excludentes do espaço público.

Necessitamos então do resgate imediato do humano, do urbano mais humano. É sobre esse espaço, qualificante, estruturador, confortável, acessível, onde conseguimos viver com, conviver, é que busco como humanidade no urbano.

O URBANICÍDIO é a desumanidade, a desumanização do espaço público.

Pensar o espaço público, como lugar restrito e seletivo é o grande equívoco para as cidades contemporâneas. Não podemos continuar a propor lugares para uma única classe social, a cidade é diversa e o espaço urbano deve ser e potencializar essa característica, então definir lugares de encontro e de se mostrar, ver e ser visto, para além das trocas comerciais, deve ser a premissa para o urbano mais humano.

Os passeios, alamedas, avenidas que estruturam e embelezam o lugar das trocas, deve ser pensados para além da mercadoria, em um desenho estruturado do ‘viver com’e que possa chegar aos limites do corpo, do gestual, da moda e vivência e traduzir-se como lugar democrático, diverso em contraste às grandes estruturas viárias, secas, híbridas e desnudas de humanidade.

* Adriane Matthes é arquiteta e urbanista, mestre e doutoranda em urbanismo  pela PUC Campinas e professora do curso de Arquitetura e urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas.

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