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Poços de Caldas

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Mar de lama, de morte e de esperança

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Rio encontra o mar em Regência (ES).
Rio encontra o mar em Regência (ES).

Esta série de reportagens termina onde deveria: no ponto exato em que o Rio Doce encontra o mar. Foram doze dias de viagem, de Poços de Caldas a Ouro Preto, de Ouro Preto a Regência, de Regência a Poços de Caldas. Entre erros e acertos no caminho, cerca de 3.200 quilômetros percorridos.

Eu, João Araújo, e Juliano Borges, ambos jornalistas, iniciamos a jornada com a certeza de que deveríamos contar histórias. Foram dias cansativos, mas surpreendentes. Encontramos pessoas das mais diversas funções, de prefeito a pescador, que nos receberam da mesma forma atenciosa e solícita. Alguns são vítimas de toda a desgraça que se abateu sobre o rio, outros são responsáveis por ajudar as vítimas a encontrar um novo caminho. Há ainda os que poderiam continuar suas vidas normalmente, mas que não conseguem dormir tranquilos depois de ver o noticiário.

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Muitos não foram citados nas reportagens, como o prefeito de Resplendor (MG) e a agente de saúde que conversou conosco na fila para pegar água em Colatina (ES), mas todos nos ajudaram a mostrar a realidade de forma mais clara.

Depois de tantas histórias chegamos à sede do Projeto Tamar, em Regência (ES). Lá, tentamos pegar carona em um dos helicópteros do Ibama para ver o problema em outro ângulo. Já não havia mais voos neste dia.

Conseguimos um barco. O mar está forte e a água barrenta nos alcança com o balanço das águas. A cada avanço, percebemos que a imensidão marrom parece não ter fim.

A imagem chocante ganha um alívio inspirador. Um bando de gaivotas surge longe, no banco de areia. Nos aproximamos aos poucos. Quando chegamos mais perto elas iniciam um vôo sobre nossas cabeças. São centenas delas, ágeis e imponentes. Paisagem refrescante no meio de tanto peso.

Gaivotas sobrevoam o mar em Regência (ES).
Gaivotas sobrevoam o mar em Regência (ES).

Temos que seguir. O barco chega à foz do Rio Doce, onde as duas correntezas, em direções diferentes, espalham a lama dividida pelas ondas. Agora, a missão dessas águas é de disseminar os rejeitos. Quanto mais longe eles forem, menor será a turbidez, mais clara será a água, menor será o prejuízo.

O impacto ambiental ainda é um mistério. Quando passamos pelo Parque Estadual do Rio Doce, ainda em Minas Gerais, um funcionário nos informa que as consequências da lama são fatais. Para os animais, para o rio, para toda a reserva ambiental. Ele diz ainda que o relatório que avaliou a tragédia é chocante. Como esperado, nunca tivemos acesso ao relatório. A assessoria de imprensa também não liberou nem entrevistas com os gestores do parque.

Voltando às gaivotas, ainda é importante dizer que muitas morreram. Assim que a lama chegou ao rio, o movimento na área foi grande. Máquinas trabalhando, barcos passando o tempo todo. Mas muitas sobreviveram também. Quem nos conta isso é o coordenador do Projeto Tamar, Joca Thomé. Ficamos sabendo ainda que há alguns peixes vivos. Comunidades próximas, sem informação, chegaram a pescá-los.

Se as consequências ambientais são difíceis de mensurar, as sociais parecem ser impossíveis. De Mariana a Regência, cada cidade foi afetada de forma diferente. São muitos em busca de um recomeço, perdidos, com aquele olhar que alterna entre o vazio de futuro e o cheio de passado.

Agora voltemos de novo às gaivotas. Assim como elas podem continuar sobrevoando o mar em um raro espetáculo, nos resta a opção de acreditar que os homens, mulheres e crianças não deixarão a lama devorar as próprias vidas.

 

 



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