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Poços de Caldas

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Poços de outros tempos

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Sebastião Pinheiro Chagas foi prefeito de Poços de Caldas de 1976 a 1978.
Sebastião Pinheiro Chagas foi prefeito de Poços de Caldas de 1976 a 1978.

Sebastião Pinheiro Chagas foi prefeito de Poços de Caldas de 1976 a 1978. Nestes três anos de mandato lutou para erguer o Estádio Municipal Dr. Ronaldo Junqueira, que até hoje é a casa dos principais jogos de futebol na cidade. Aos 97 anos, ele se lembra de tudo com nostalgia e poesia.

Nos olhos e palavras do ex-prefeito, a nítida admiração pela Poços de Caldas de outros tempos, pela boemia e romantismo de uma época muito diferente da atual. Fala com intimidade de nomes que marcaram a história poços-caldense e analisa o presente, com um olhar otimista sobre a realidade municipal.

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Poços Já: Quais foram os cargos políticos que o senhor ocupou?

Sebastião: Fui prefeito de Poços de Caldas, deputado estadual, presidente da Comissão de justiça da Câmara, oficial de gabinete dos atuais naquela época, que eram o Francelino Pereira, o Hélio Garcia, que era muito meu amigo, e todos os demais que passaram pelo Palácio da Liberdade. Eu era estudante de direito, muito afeito a política, porque em Oliveira, minha terra, era um centro político muito histórico. E acabei sendo então prefeito de Poços de Caldas e deputado também, candidato ao senado com Israel Pinheiro. Uma vida curta, mas cheia de aventuras e sonhos maravilhosos.

Poços Já: Como foi o começo na política?

Sebastião: Eu comecei na política em Oliveira, porque meu pai era de uma família, a Pinheiro Chagas, que não era rica, mas cultivava a arte, a cultura e a política. Então eu, integrante dessa família, fui acompanhando os passos dos mais antigos. Me elegi lá vereador e me liguei lá aos políticos locais, como o João Haddad. Daí fui seguindo os passos, a faculdade de Direito, que era um ninho do políticos. Fui aprumando como um pássaro voador, até que uma seta envenenada bateu no meu peito e eu acabei largando a política e não quero voltar nunca mais.

Poços Já: O que aconteceu?

Sebastião: De anormal, nada. Mas era cansativo, porque eram passos muito repetitivos. Eu tive que sair da política e exercer a advocacia em Poços de Caldas, principalmente a criminal. Fui participante de júris importantes, com o Chavinho, que começou no meu escritório, que era na rua Rio de Janeiro. Grandes júris daqui da redondeza, eu gostava muito de direito criminal. Às vezes ia a São Paulo, era muito amigo do Dante Damanto, que era um grande advogado, e fazia até júri em São Paulo. Sempre em uma aventura, mas a aventura do sonho, idealista.

Poços Já: O senhor também fez teatro aqui.

Sebastião: Fizemos teatro, fundei aqui o Centro Teatral Léo Ferrer, que era um poeta na época. Esse teatro tinha a Mirtis, o Glauco, o Lauro Delgado, uma turma interessante. Fizemos récitas aqui e na redondeza toda, em São Paulo também. Grandes dramas antigos e comédias, os dois gêneros.

Poços Já: Como o senhor veio parar em Poços de Caldas?

Sebastião: Foi sempre a terra amada, querida, Poços de Caldas fantástica, terra catita das moças bonitas. Vim para Poços de Caldas para ficar uma semana, como representante do governo de Minas para conciliar uma briga dos médicos das Thermas e os locais. Mas apaziguei tudo e naquela semana as montanhas me engoliram, eu fiquei a vida inteira. Casei com uma poços-caldense que é Junqueira Lobato. Os Lobatos eram inimigos nossos em Oliveira, não passavam na mesma ponte, Montéquios e Capuletos. Quando dei a notícia, minha mãe falou: “Meu filho, o que é isso? Casar com uma moça de família inimiga?”. Eu disse: “Exatamente, minha mãe, para apaziguar.” E foi estendida a bandeira da paz. Eu fiquei nessa cidade linda, a gente sempre canta “Lá no alto, bem alto da serra, onde o céu é azul cor de anil, um cruzeiro fincado na terra representa a fé do Brasil. A represa e as lindas garotas, Country Club e a Pedra Balão, tudo isso ficou para sempre bem gravado no meu coração”.

Poços Já: O senhor foi prefeito nomeado.

Sebastião: Fui prefeito nomeado, porque naquela época os prefeitos de estâncias hidrominerais e cidades históricas eram nomeados pelo governo. Fui nomeado pelo governo do Rondon Pacheco, que era meu colega de turma, amigo pessoal. Nos conhecemos por acaso e fomos morar em um porão em Belo Horizonte, vindo cada um de sua cidade.

Ex-prefeito é natural de Oliveira (MG).
Ex-prefeito é natural de Oliveira (MG).

Poços Já: Quais os destaques da sua administração?

Sebastião: A minha administração não foi projetada tecnicamente, foi quase de acontecimentos surtuitos. Por exemplo: havia a falta de um estádio em Poços de Caldas. Então a primeira obra de vulto foi um trabalho com o Geraldo Martins, pai do Aécio, para o estádio que hoje tem o nome de Ronaldo Junqueira. Nós íamos dar o nome de Mauro Ramos de Oliveira, porque ele tinha levantado a taça do campeonato mundial, um moço simples daqui. Aí puseram o nome do Ronaldo, merecedor, um grande prefeito, correto, cem porcento dinâmico. Então eu tive que respeitar, fui à família, pedi desculpas e fizemos depois o busto dele na avenida David Ottoni. Mas a verdade do estádio era essa: foi um trabalho dinâmico, arranjamos verbas federais, estaduais, o Rondon Pacheco nos ajudou muito. Ele deu quatro milhões para a represa Bortolan, que foi também obra da época, Bortolan, Saturnino de Brito, que a gente ajudava enquanto prefeito, entre outras de calçamento, de ruas. Não havia uma projeção, era uma época de sonhos, de idealismo. Não havia tecnologia moderna. Hoje para fazer um estádio movimentam meio mundo. Na época não, eram pessoas simples, feitores.

Poços Já: Além do Ronaldão, quais os outros destaques?

Sebastião: É difícil enumerar, porque a gente não tinha iniciativa, no meu tempo a gente tinha era colaboração. O Moleque César, por exemplo, ajudamos o máximo. Mas é sempre a iniciativa de um cidadão que o poder público ajuda. No meu tempo foi assim. Eu me envolvi muito no estádio, mas me envolvi também em outras coisas da cidade, outras obras, como SOS, reforma da Santa Casa. Eu fui mordomo da Santa Casa, então a gente se empolgava ajudando aqueles que tinham a alegria e a humildade de iniciar um serviço público de grande resplendor e necessário à vida comunitária de Poços de Caldas.

Poços Já: Como o senhor avalia a cidade hoje em dia?

Sebastião: A cidade é resultante de uma evolução natural. Está bem cuidada, tem os seus defeitos em algumas obras mas na verdade os prefeitos todos de Poços de Caldas sempre foram homens de muita impetuosidade administrativa e muito idealismo também. Eu acho que a cidade vai bem, tem problemas porque o que evolui tem sempre problemas da própria evolução. Mas caminha com a graça de Deus, com Cristo Redentor que está lá abençoando a cidade, seu destino, seu futuro, os seus habitantes, inclusive os jornalistas, que são homens também heroicos, impetuosos, sujeitos às flechas do destino.

Poços Já: Qual a sua opinião sobre o prefeito Eloísio?

Sebastião: O Eloísio é bom, é uma pessoa que quando fala sempre é firme nas suas conclusões. Ele tem feito dentro do possível, no impossível do tempo, coisas boas.

Poços Já: Como era Poços de Caldas quando o senhor era prefeito?

Sebastião: Era uma cidade boêmia, romântica, todo sábado nós fazíamos serenatas, eu, José Wargas de Souza, Arlindo Ferreira Pinto, Jurandir Ferreira, que foi um grande escritor. Éramos recebidos em várias casas, com fartura de whisky, de champagne, em uma cidade calma, romântica, sempre abrigando turista, que é sempre apaixonado por Poços de Caldas. Vinham aquelas ondas de uruguaios, os italianos, que foram os grandes auxiliares e construtores do nosso progresso. Vieram também portugueses.

Poços Já: Quais foram os desafios da sua administração?

Sebastião: As dificuldades são sempre as financeiras. Poços tinha uma renda regular na época, que contrabalançava despesa com receita. Foi sempre muito equilibrada. O administrador de Poços tem que equilibrar sempre a situação financeira da prefeitura. Jamais vimos um escândalo político, é uma prefeitura equilibrada, às vezes até rica, que sobra dinheiro para fazer obras monumentais.

Poços Já: E mesmo com dificuldades financeiras o senhor conseguiu construir o Ronaldão.

Sebastião: O Ronaldo foi resultante de um esforço particular com ajuda do poder público municipal, estadual e federal. Nasceu dessa luta, dessa peleja dos esportistas da cidade de ter também um estádio à altura. E tem, o estádio nosso é muito bom.

Poços Já: Até porque é um estádio importante até hoje.

Sebastião: Não conseguiram superar. Vivem fazendo reformas, está certo, tudo desgasta, mas não superaram com outro. Tem feito vários estádios, com esforço particular, nos bairros, mas como esse não tem em outro lugar.

Poços Já: Essa união entre prefeitura, estado e governo federal falta hoje em dia?

Sebastião: Era um conjunto harmônico, juntávamos para um trabalho comum. Mas hoje a política esfacelou essa unidade harmônica. Você está vendo aí problemas políticos terríveis, horrorosos, essa política de mãoquerência, caminhando muitas vezes para as coisas que não são corretas, que está estrangulando essa unidade federativa que luta pelo progresso e pelo desenvolvimento desta nação.

Poços Já: Quando o senhor nasceu?

Sebastião: Eu sou de 1918. Quando todo mundo morreu na Grande Guerra eu estava nascendo. Sobrevivi ao cadafalso político universal. Mas eu fico muito grato a vocês dois pela honra que me deram nessa entrevista. Jornalistas assim, que especulam com a devida cautela, merecem um brinde de recordação.



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